sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

porão do alemão



Pegue todos os corações amargurados e sofridos e junte num só lugar: bem vindo ao porão.

se você tiver dúvidas com quem ir à este lugar, fique amigo dos garçons, eles sempre estarão por lá. nada será desculpa.

Evite os destilados (você não quer ficar bêbada na primeira meia hora) e vá no chopp, sem sal e limão. depois de evitar o veneno do açúcar  não vá se acabar no sal. seu organismo agradece. Evite ficar MUITO (pouco pode) bêbado nesse lugar, não esqueça que um coração sofrido e amargurado é capaz de fazer loucuras com muita quantidade de álcool. respeite a pessoa que te deu carona e não vomite no carro.

Coisas que podem acontecer se você perder a dignidade nas primeiras horas:

1. subir no palco;
2. subir no palco e dançar sensualmente;
3. subir no palco, dançar sensualmente e tirar a roupa (cuidado), você não está entre naturistas;
4. vomitar no banheiro, não faça isso com aquela senhora simpática que fica lá dentro te cumprimentando toda vez que você vai arrumar o cabelo e, esporadicamente, fazer xixi;
5. vomitar no carinha que tá te dando mole;
6. subir na bancada, tomar mariana (aquela bebidinha que tem fogo) e levar uma chacoalhada na cabeça;
(...) o céu é o limite e... você tem toda uma vida digna e plena pós porão, não esqueça.

ainda que possa parecer divertido, lembre-se daquela máxima: "cu de bebo não tem dono", repita tal qual um mantra, ela guiará a quantidade de álcool que você vai ingerir.

já com o etanol no sangue, ouvindo aquelas músicas da sua pseudo adolescência rebelde, você terá uma sensação incrível, cante junto e assista aqueles clipes da mtv projetados no telão, que te acompanharam durante muito tempo na época em que você ficava esparramado no sofá depois do colégio. 

Se o IBGE resolvesse fazer uma pesquisa neste recinto, perceberia que 95% daquela população, são de outros estados... ou dizem que são. ser amazonense não te dá status. Se alguém disser: "você não parece ser daqui", não encare como elogio, é óbvio que o cara é um babaca e não merece a sua atenção. se for milico, fuja.


COTIDIANO DO PORÃO POÉTICO:


ELE DISSE QUE ERA PAULISTA

ELA FALOU QUE ERA FIEL

DE MANHÃ ELE VOLTOU PRO PARÁ

ELA FICOU DORMINDO NO MOTEL

(fonte: porão do alemão da depressão)



Após ouvir um barulho de sirene, não se assuste, não corra para a porta de emergência, é o prelúdio de um hino daquele lugar:



Toxicity - System of a down

aerials e chop suey, tem o mesmo efeito. você vai presenciar um coral de várias línguas, menos inglês. não importa, siga o fluxo, preste atenção na fonética e arrase!

Logo depois de ouvir a música mais afrodisíaca do porão, pode acontecer de rolar o seu primeiro beijo neste ambiente... agora climatizado E com área de fumante separada (YES!) só você sabe como era difícil disfarçar aquela catinga de cigarro que ficava no seu cabelo:



concomitantemente, poderão ocorrer diálogos deste naipe:

fonte: porão do alemão da depressão.


Desde 1998, este lugar se mantem funcionando como o mais eficiente centro cardiológico de Manaus, não cuspa no prato que você já comeu. e não foi pouco.

IMPORTANTE: não confie em ninguém que diz não gostar do porão. é lá que você se sente bonita, interessante, atraente... decadente e feliz.


5 comentários:

  1. Eu não gostei. Fui uma vez, tava entupido de nego, uma banda escrota etc.

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  2. O porão é o bar rock mais forró de Manaus, nas minhas quase 3 décadas de vida ainda não fui os dez dedos da palma da minha mão, mas, é tudo verdade o que está escrito neste texto e falta mais, é um ambiente complexo digno de tese, essa Natasha tardia parece a do Capital Inicial cabelo verde e tatuagem no pescoço (não dá para ver)...abraçaço.

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  3. Natasha: devo dizer que fiquei ébrio, desnorteado e (quem sabe) até um pouco irritado com as recentes reflexões do professor Villaça, a quem você deu um imerecido amplo destaque no seu encantador blog. Não desperdice tanta gentileza com os "artistólogos" (aqueles que traficam com a arte, mas são incapazes de versos de Lorca, sombras de Caravaggio ou melodias de Papageno). A salada confusa de Adorno, Said e Beethoven alterou meu estado de consciência, e chegou ao desespero quando envolveu Natasha Tardia (risos), Clarice Lispector e Mozart. Suplico que nunca mais faça isso: não misture facilmente a elegante Clarice ou o genial Mozart com palavras inconsistentes (non le sue parole, comunque). Atribuo os motivos desta reclamação (que espero que você acolha com a cordialidade e respeito que eu tenho com seu blog) à noturnidade da sua escrita e, também, ao choque tropical que eu vivo estes dias de calor amazônico em Belém. Peço desculpas se minhas palavras parecem antipáticas: não pretendem ser assim com você.

    Porém, hoje um ceviche delicioso no singular restaurante Saudosa Maloca, na vizinha Ilha do Combu, restaurou minha simpatia aqui em Belém. Ah: comentei com meu colega Orlando (o curador da exposição que me trouxe a esta cidade) e com Valentina (a amiga filóloga de quem já falei, e com quem almocei em outras ocasiões no Saudosa Maloca) a inaudita arte de Vanessa Tiegs, todos ficamos impressionados.

    Sou grato ao Porão do Alemão, foi ai onde eu tive uma das noitadas mais memoráveis ao som de Mark Knopfler, em tempos de verdadeiro "money for nothing and chicks for free" (duvido que ainda seja assim). Sua postagem reforça a personalidade subterrânea, telúrica e gnômica de Natasha. Ah!: sua reputação não cairá em absoluto se optar por subir no palco e dançar sensualmente. Apenas será desprestigiada na minha avaliação se optar pelos milicos, mas vejo que você os evita. Mantenha-se decadente, um pouco bêbada, interessante e feliz.

    Atte.,
    Mr Hide

    PS: Grato também pelo comparecimento súbito de Fagner, essa música ainda me emociona e traz à memória histórias geniais de um bom verão no norte do país. Cidades encantadoras Belém e Manaus, que seria delas sem as nativas inteligentes que espantam os exóticos arrogantes.

    Volto ao trabalho, apreciando os artistas sempre.

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    Respostas
    1. Diz o ditado popular que quando não tem pai em casa, acha-se na rua... não saberia dizer ao certo no que se tornou Mr. Hide, meu orientador no blog? (sarcasmo com risos)

      Obrigada pelos incisivos, inteligentes e agradáveis comentários recorrentes, como eu disse no final do texto: foi um devaneio da madrugada, por certas necessidades que ainda tenho, um impulso, não sei.

      Academicamente, tenho dificuldades de me permitir, feijão com arroz me definiria... confesso que é um erro, mas aqui... gostaria que fosse um espaço pra misturar, embolar, inventar palavras,conceitos, teorias mirabolantes, errar, acertar, falar, compartilhar, esvaziar.

      Não respondo por ego ferido, sou anônima por aqui, mas por um direito de resposta, tal qual uma conversa. Eu gostei do absurdo de colocar a Natasha ao lado de Mozart ou criar uma amizade imaginária com a Clarice. Foi/é divertido.

      Aqui, ao menos, me permito.

      Por estudar um tema tão caro aos ditos eruditos/intelectuais/elite de uma forma geral: obras de artes e artistas... procuro ao máximo, desconstruir a ideia de gênio, de mítico, da áurea que existe sobre a figura do artista e suas obras. É um caminho espinhoso... mas é o que pretendo trilhar no momento. Bourdieu e outros autores... tem me ajudado.

      Entendo a sua preocupação e as acolhi com cordialidade, saiba que o respeito é mútuo.

      Gostaria de conversar com meu amigo sobre tudo isso aqui, inclusive sobre você. Mas não posso. Por isso criei o blog.

      *

      Uma das minhas fraquezas na vida é a comida paraense, sou fã daquele arroz de tacacá (...) e do ver-o-peso (amo feiras). Costumo (das poucas vezes que fui) ir à um barzinho chamado “palafita” se não me engano. (rua Siqueira Mendes, catedral da sé, bairro cidade velha). O ponto alto é o por do sol (chegue antes das 18:00), o rio e a cerpinha gelada.

      Vou pensar sobre as dancinhas sensuais, Manaus por ser absurdamente provinciana, inclusive com o comportamento das suas mulheres, as vezes me irrita... condicionamentos da vida cotidiana...

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    2. 'Misunderstanding' sem importância, Natasha, fruto talvez da minha incapacidade de expressar-me melhor - o que me torna distante, por exemplo, de Clarice. Li sua resposta: não critico a sua amizade imaginária com Mozart ou Lispector, que acho louvável. O que tinha me deixado insatisfeito era a promiscuidade inquisitiva do "artistólogo", que colocou em balaio de gato perfis tão singulares, enfiando a capricho o dedo de unhas mal cortadas no olhar de todos. Quanto a você, permaneça naquelas agradáveis companhias.

      Como a minha neste instante: um filé de gurijuba bem temperada por uma dona do Ver-O-Peso.

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