sábado, 2 de janeiro de 2021

Distinção x acumulação de capital

Hoje fui fazer exame de sangue para saber se estava com covid ou não. O nome do exame era "Coronavírus - covid 19, IgG e IgM". Em ambos, deu "não reagente" e isso significava que eu não havia pegado em nenhum momento do ano passado nem agora. Ainda que eu tenha apresentado quase todos os sintomas. O fato, é que aproveitei o "passeio" para observar Manaus.

Fiquei pensando na quantidade de significados que eu depositava em algumas partes da cidade, em alguns bairros, estabelecimentos e isso inclui objetos, roupas, sapatos que hoje vejo como pura bobagem. Fiquei pensando no que eu poderia ter economizado e na importância da experiência, do deslocamento, nas muitas linguagens que ela te oferece. 

Algumas verdades são ocasionais, eu sei. Mas o fato é que hoje tive esta revelação: acumular o máximo que puder. Tenho planos. 



sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Amazônia: caio do céu, broto do chão

Tem algo bem interessante que eu quero entender com mais profundidade e vou me utilizar disso aqui.

Estou em Manaus e as vezes tenho a impressão que é como seu eu tivesse nascido no Hawaii, na Índia ou na Indonésia, em Bali, sei lá. Algo bem quisto entre turistas de natureza, cultura e espiritualidades no geral. Acontece que aqui estão enterrados meus bisavós, avós e amigos. Aqui crescem meus sobrinhos, envelhecem meus pais. Aqui eu brinquei, caí, namorei, chorei, estudei, senti raiva, briguei. Daqui eu parti e voltei. Não é uma visita ou uma experiência xamânica com todo o exotismo que isso pode conter. 

Eu não cresci na fumaça, esfolando joelho no concreto sujo, bebendo água de rio podre e com o sangue cheio de antibiótico. Eu tomei banho em igarapé, curei garganta inflamada com andiroba, dona Teo rezou na minha cabeça quando eu era criança, cresci no meio da vitória régia, entre pescadores, ribeirinhos, agricultores, comendo peixes gigantes e doces de cupuaçu como se fosse a coisa mais natural do mundo. 

Sinto muito, isso faz muita diferença. Cada um que lute com sua trajetória, essa é a minha. 

A princípio, identifico duas coisas interessantes: minha memória afetiva e essa potência que a Amazônia, de fato, é. Ainda que eu torça o nariz para todo esse exotismo irritante, tem algo que eu não consigo explicar, algo que me escapa, pela falta de estranhamento necessário, talvez. De fato, não sou estranha a esse lugar. Eu me reconheço inteiro nele, sou parte desta geografia. Me parece que não há tantos limites entre memórias, diversidades e sensações. Caio do céu, broto do chão. Sigo especulando.

Desde quando o avião se posicionou e eu avistei o primeiro braço de rio, comecei a chorar de emoção. Mas não era o desenho do rio, não era a floresta, não era o céu... ou era

Esse olhar distanciado deve me servir pra algo. É isso que eu quero descobrir. 

Assim que o avião aterrissou, levantei da poltrona e disse brincando para minhas duas companheiras de viagem:

- Preciso sair daqui agora, preciso correr.

Uma delas me respondeu:

- Não, agora você é civilizada, não é do mato. Não vai sair correndo. 

Respondi chorando e sorrindo, bem surpresa com a minha resposta atrevida, emocionada e sincera:

- Eu não sou civilizada, sou d(o) mato. 

Quando alcancei a porta do avião, saí como uma flecha. Corri, literalmente, numa emoção que nem sei explicar. Agradeci a todos os seres por não ter despachado nada! 

Num primeiro momento, pouco me importou as comidas, a paisagem, o rio, a floresta: o que eu queria estava ali na minha frente, aquele bloco de carnaval me esperando no aeroporto com todos os braços do mundo, meu mundo. 




Baleias

Estava na praia do Campeche, sozinha, quando uma moça com duas crianças se aproximou e perguntou se eu conhecia as praias da Armação e Matadeiro. Respondi que não. Eu poderia falar sobre as duas praias,  mas que confesso não quero. Além de tudo, achei  macabro saber que ali era o lugar que matavam baleias. 



Sem saber  ao certo como aconteciam as carnificinas, fiquei imaginando esqueletos enormes sendo retalhados a céu aberto com dezenas de homenzinhos, urubus e moscas sobre eles. Pela foto, minha imaginação não estava tão errada assim. 

Em 2018, fiquei sabendo que baleias tinham aparecido na praia de Moçambique. Fiquei chocada! Nem sabia que elas nadavam em costas brasileiras... deve ter sido a água gelada que atraiu as bichinhas, pensei. 

De qualquer maneira, pensar em baleias me remetia ao meu livro não acabado de Moby Dick. Sem pesar, sigo viajando. 

Após ondas épicas de quase dois metros, o barqueiro de lagoinha do leste nos disse que uma baleia havia aparecido exatamente naquela praia no dia anterior! Novamente associei ao mar gelado... o sol estava no talo e a água incrivelmente fria. Dessa vez, não reclamei, fiquei um bom tempo ali... achei bem gostoso e até curativo. Elas sabem das coisas. Naquele mesmo dia, fomos a praia de Moçambique. Estava ansiosa, era a minha favorita do guia. Dizia que havia uma floresta de pinheiros e que poderíamos caminhar ao longo. Minha esperança secreta era ver uma baleia por lá, achei tudo muito surreal para umas férias tropicais como aquela. 

Nem consigo dizer "infelizmente" porque a praia era tão linda, tinha tanto siri, pássaros e tanto pescador que só o fato de imaginá-las por ali, nadando escondidinhas, me deixou satisfeita. 

Em Manaus, sonhei com uma.

Eu estava na água e fora dela, havia um perna de pau com um jeito engraçado sobre a baleia. Ele tentava se equilibrar enquanto ela fazia seu nado por baixo da água. Não era muito grande, nem parecia um filhote. Ambos estavam bem confortáveis ali, parecia divertido. Eu observava tudo, a água clarinha me ajudava a enxerga-los. 

Acordei. 

Hoje, deitada com a cabeça no colo do papai, vimos um programa de vistas aéreas sobre cidades (sim, isso existe) na tv. Era o estado de Massachusetts. Das informações relevantes que agrupei nesta noite quente, foi que Jacqueline Kennedy segurou um pedaço do cérebro do seu marido no dia do assassinato (essa informação foi do meu interlocutor) um outro dado relevante, dessa vez do programa, foi que o Estado exportava óleo de baleia para o mundo inteiro. Era utilizado como combustível, até rolar um super incêndio na região. Parece que há uma igreja, mencionada inclusive por Herman Melville, que os pescadores rezavam antes de irem a caça. Era algo extremamente perigoso. 

Sem saber como acabar esse texto, digo fim. 



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