sexta-feira, 20 de junho de 2014

Moema, Victor Meirelles

Num dia friorento e cheio de culpa, resolva dar uma voltinha na Babilônia, a antiga terra do café deve ter algo para oferecer numa terça feira: o museu é de graça!

Logo no primeiro andar, você começa a desconfiar da originalidade daquela cambada de quadros... gente, como aquelas pinturas chegaram ali? doação? compra? MASP está de parabéns na miguelagem, digo, na articulação para que aquelas obras ocupem o território brasileiro. 

Queria saber se o processo de "aquisição" de peças nos "museus etnográficos" espalhados no planeta foram adquiridos com tanta diplomacia também... roubo? saques? claaaaro que não! 

Muito bem, na ânsia pela "civilização" do velho mundo e o desejo de adquirir capital simbólico na concrete jungle, fui dar uma voltinha sobre os tapetes vermelhos daquele recinto.

Depois de um corredor inteiro de "selfie" de realeza, santinhos, bailarinas e gostosas peladonas, cansei e passei a matutar outras coisas... quando vão aparecer os índios? quando essas pinturas vão chegar ao novo mundo?

Passei a observar as obras com sangue nos olhos: "bando de bastardos colonizadores", "vocês não me representam", "você também não", "nem você", "muito menos você"... sempre cultive uma mini plantação de ódio, vez ou outra você busca no fígado algum tipo de inspiração.

Com a certeza absoluta de estar cometendo alguma injustiça neste texto, um salve especial para dois lindos: Cândido Portinari e Paul Gauguim.

*

No meio do passeio sobre a cultura do inimigo, uma escultura lindona e singular no meio da sala chama atenção! fui correndo ver o nome do autor: "arte africana"... COMO ASSIM? QUEM FEZ? sacaram um problema? reflitam: qual a diferença dos outros artistas que compartilham o mesmo espaço? apesar da literatura (pouca) existente sobre o assunto, até hoje não tenho uma resposta muito honesta.

seguindo... nada de índio... até que no final, já sem esperança e xingando o MASP, alguns pedaços de um corpo nu, deitado e algumas peninhas na cintura... EMOÇÃO!

Me aproximei e era a Moema... 

"Moema", Victor Meirelles (1866).


Parecia estar dormindo, mas havia morrido afogada ao nadar atrás de Diogo (o caramuru), segundo algumas interpretações...

A única representação dos povos indígenas naquele cenário das artes plásticas do MASP era de uma índia morta... (suspiros)

Em homenagem, catei esse artigo e achei o poema do Frei Santa Rita Durão, sobre Moema... 
Lembre-se das aulas de literatura da sexta série: sala de aquário e professora Maria Joaquina :)


XXXVI. 
He fama então que a multidão formosa 
Das Damas, que Diogo pertendião, 
Vendo avançar-se a náo na via undosa, 
E que a esperança de o alcançar perdião: 
Entre as ondas com ansia furiosa 
Nadando o Esposo pelo mar seguião, 
E nem tanta agoa que fluctua vaga 
O ardor que o peito tem, banhando apaga. 

XXXVII. 
Copiosa multidão da náo Franceza 
Corre a ver o espectaculo assombrada; 
E ignorando a occasião da estranha empreza, 
Pasma da turba feminil, que nada: 
Huma, que ás mais precede em gentileza, 
Não vinha menos bella, do que irada: 
Era Moema, que de inveja geme, 
E já vizinha á náo se apéga ao leme.

XXXVIII. 
Barbaro (a bella diz) tigre, e não homem... 
Porém o tigre por cruel que brame, 
Acha forças amor, que em fim o domem; 
Só a ti não domou, por mais que eu te ame: 
Furias, raios, coriscos, que o ar consomem, 
Como não consumis aquelle infame? 
Mas pagar tanto amor com tedio, e asco... 
Ah que o corisco és tu... raio... penhasco. 

XXXIX. 
Bem puderas, cruel, ter sido esquivo, 
Quando eu a fé rendia ao teo engano; 
Nem me offendêras a escutar-me altivo, 
Que he favor, dado a tempo, hum desengano: 
Porém deixando o coração cativo 
Com fazer-te a meus rogos sempre humano, 
Fugistes-me, traidor, e desta sorte 
Paga meo fino amor tão crua morte? 

XL. 
Tão dura ingratidão menos sentira, 
E esse fado cruel doce me fora, 
Se a meo despeito triunfar não vira 
Essa indigna, essa infame, essa traidora: 
Por serva, por escrava te seguíra; 
Se não temêra de chamar Senhora 
A vil Paraguaçu, que sem que o creia, 
Sobre ser-me infrior, he nescia, e feia. 

XLI. 
Em fim, tens coração de ver-me afflita, 
Flutuar moribunda entre estas ondas, 
Nem o passado amor teu peito incita 
A um ai somente, com que aos meus respondas 
Barbaro, se esta fé teu peito irrita, 
(Disse, vendo-o fugir) ah não te escondas; 
Dispara sobre mim teu cruel raio... 
E indo a dizer o mais, cahe n’um desmaio. 

XLII. 
Perde o lume dos olhos, pasma, e treme, 
Pállida a côr, o aspecto moribundo, 
Com mão já sem vigor, soltando o leme, 
Entre as salsas escumas desce ao fundo: 
Mas na onda do mar, que irado freme, 
Tornando a apparecer desde o profundo; 
Ah Diogo cruel! disse com mágoa, 
E sem mais vista ser, sorveo-se n’agoa.

XLIII. 
Chorárão da Bahia as Nynfas bellas, 
Que nadando a Moema acompanhavão; 
E vendo que sem dor navegão dellas, 
Á branca praia com furor tornavão: 
Nem pode o claro Heróe sem pena vellas, 
Com tantas provas, que de amor lhe davão; 
Nem mais lhe lembra o nome de Moema, 
Sem que ou amante a chore, ou grato gema





quarta-feira, 4 de junho de 2014

O dia que o livro ganhou da internet

Queria escrever um texto bem bonito, explicando como o livro ganhou da internet,
o dia em que se podia ler uma coisa de cada vez, nos mínimos detalhes,
o dia em que o risquinho de lápis no canto da página era sinônimo de carinho com a folhinha de papel.

maldita internet!

Sério: Serviço de desintoxicação da internet.


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