domingo, 23 de novembro de 2014

A comida militante

Não se engane, esse texto está sendo elaborado exclusivamente para os dotados de covardia.

Diante dos acontecimentos recentes contra os povos que não vivem no mesmo ritmo da economia brasileira baseada no agronegócio, por exemplo, você deve manter uma postura mais firme, vigorosa e militante contra as ações do governo federal. Só escrever não basta.

Se as manifestações estão cada vez mais violentas e o seu vudu da Katia Abreu não tem surtido efeito, saiba que há um espaço para você se manter politizada, firme e atuante nos seus ideias sem precisar levar ponto cirúrgico na testa.

Ataque pela comida, calma, vou explicar.

Pra início de conversa, se você decidiu ser vegano justificando que é contra fazendeiro, ruralista ou grandes criações de gado que vem expulsando os pequenos agricultores, dissolvendo a agricultura familiar e demais povos que mantém as duras penas a área de floresta em pé ainda existente nesse país pra você tomar água em casa, saiba que você será rechaçado se vier atacar de soja.


No Brasil a região que mais tem produzido a soja é a centro-oeste... bem pertinho do Parque Nacional do Xingu. A principal queixa dos que resolveram adotar um estilo de vida vegano é que  o consumo de soja por humanos no Brasil não chega a 1%. Já a pecuária, laticínio e ovos (que também usam ração e soja para pecuária) são praticamente 100% responsáveis pelo desmatamento, aquecimento global e efeito estufa.

Diante desta realidade, chegamos a conclusão que a vida não está fácil pra ninguém... tente elaborar outras estratégias para se manter circulando no meio social em que vivemos, ainda sobram a quinoa e pão integral, ouvi dizer que você ainda pode comê-los de boa. Se ficar difícil ser vegano em Manaus, minta e seja cauteloso.

O que fica cada vez mais nítido é que comer virou sinônimo de muita hipocrisia... enquanto você come, indiretamente alguém está sendo explorado, expulso, morto ou escravizado pro seu pratinho estar ali. 

A meta é você arregaçar as mangas:

1. Criar sua própria horta;
2. Ter suas aves pra comer vez ou outra;
3. Juntar com seus vizinhos pra tocar aquele projeto de fazer um pomar no PROSAMIM mais perto da sua casa;
4. Com ambição, ter uma vaquinha;
5. Cultivar uma mini floresta num espaço de seis vagas de carros que um indiano ensinou a fazer um dia desses no youtube.

How to grow a tiny forest anywhere

Tenha o cuidado de se informar quais as espécies
da região pra você não promover um desastre ambiental. 

O céu é o limite se você tem uma ideia legal.

Engraçado que antes de escrever esse texto, a motivação foi para falar da Dona Nice e agora não tô achando um gancho pra inseri-la, bom, o gancho foi esse! O texto é meu e ela entra agora. simples.

É fato que ao lutar por um cocô macio, sim, é isso mesmo que você leu, um cocô fibroso e macio, você percebeu que os grão, legumes e água são fundamentais nesse processo e passou a investir mais neles...

Diante deste propósito de vida muito digno e os encontros maravilhosos que acontecem na sua história, você conheceu Nice e Querubina, duas mulheres incríveis:


As quebradeiras de coco babaçu são mulheres agroextrativistas, guerreiras forjadas na luta pela conservação das florestas de babaçu, pela terra, pela valorização do extrativismo e pela dignidade de ser mulher, as quebradeiras de coco babaçu ganham força política ao se descobrirem como sujeito coletivo a partir da própria atividade produtiva que desenvolvem, sempre realizada em rodas de conversas, em grupos de amizade e em parcerias por laços de família, compadrio e vizinhança. Link: MIOCB - Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco de Babaçu.


Cacho de babaçu

Daí iniciou minha relação de amor com essas lindezas de pessoas e o azeite de óleo de babaçu da Nice que coloco diariamente na minha marmitinha e em uma infinidade de pratos que você pode fazer substituindo o óleo de cozinha (É INFINITAMENTE MAIS SAUDÁVEL)! Se você não teve a sorte de encontrá-las, ou conhecê-las... vá ao Maranhão nos municípios de Imperatriz ou Penalva, ou compre pelo Site: Produtos de Babaçu. amei! :)


Azeite, novembro, 2014.


Uma outra proposta legal é você consumir os produtos cultivados pelo Movimento Sem Terra (MST):


Tem outros produtos no próprio site do MST

Olha que entrevista linda:

É preciso mostrar para a sociedade as diferenças entre agronegócio e campesinato. O agronegócio procura evitar esta diferença, afirmando que a agricultura familiar é agronegócio. É preciso manter a diferença para que a sociedade entenda que o campesinato produz comida saudável enquanto o agronegócio produz comida contaminada, produz lixo. A reforma agrária tem que ser feita na perspectiva da agroecologia, com ordenamento territorial para proteção ambiental. Os limites do agronegócio está no que ele mais defende: a produção em grande escala. Leia na íntegra: revista fórum.

Essa matéria tá bem bacana também: MST 30 anos - da terra à comida.

Em Manaus há um grupo de mulheres indígenas/agricultoras da etnia Kokama que cultivam uma horta de legumes e verduras sem agrotóxicos na comunidade Nova Esperança. Fica no Km 08, mais conhecida como ramal do Brasileirinho, no bairro Puraquequara II (zona leste). É tudo muito lindo e gostoso!!! :D~

Fonte: Altaci Rubim

Fonte: Altaci Rubim

Fonte: Altaci Rubim
Atualmente as mulheres Kokama estão vendendo, também, os seguintes produtos:


ahhhhhhhhhhh eu quero uma garrafinha!!!! :)

Aproveite o ritmo de plantações e consuma o que tiver no sítio dos seus pais também:

Macaxeira, novembro, 2014. a primeira fofura!!! <3

Agora é o seguinte, se você acha que comprar um azeitinho das quebradeira de coco ou um saquinho de arroz do MST é o suficiente, não se iluda, como eu já disse no início do texto: ESCREVI PARA OS COVARDES (como eu). De toda forma, acredito sinceramente que a compra desse saco de arroz, ou o azeite, ou os legumes das mulheres indígenas seja bastante significativo para cada uma dessas pessoas.

Não esqueça de agradecer todos os dias à esses seres maravilhosos que pagam com a própria vida para que você respire, coma e beba água até hoje. Sinto lhe informar que não é exagero, pare de veicular discurso de ódio contra essas populações, ser contra a demarcação dos seus territórios e achar que a Globo tem razão quando vulgariza e criminaliza esses movimentos que resistem as duras penas à esse modelo absurdo de desenvolvimento. Aliás, esse desenvolvimento é pra quem?

O mundo é bem maluco.

Leia: "Cem anos de solidão", maravilhoso é pouco.







terça-feira, 11 de novembro de 2014

um domingo de solidão e muita delicadeza...

Após três dias de intensa violência: quinta, sexta e sábado, ironicamente... me recolho num domingo chuvoso pra entender as origens de toda essa maluquice, sim, eu estou falando do mundo... e da chacina no Pará também.



Esse é o tipo de livro que você se pergunta: como posso ter vivido até hoje sem ter lido uma página desse Colombiano? Busquei refúgio no lugar certo...




terça-feira, 4 de novembro de 2014

Ver-o-peso e outras comidinhas

O parente desmemoriado de Manuel de Borba Gato ao pisar em solo Paraense, deixou de lado a cobiça por ouro e esmeraldas imposta por seus ancestrais, e espalhou aos quatro ventos que queria experimentar o melhor Açaí da região. Ouviu falar de uma rixa antiga entre Manaus e Belém e foi tirar a prova deste sabor nas mediações da rodoviária principal da cidade.

Açaí fresco com farinha de tapioca, Belém, 2014.


Ao experimentar o delicioso vinho de Açaí, decidiu guardar à sete chaves o resultado do método comparativo nesta refinada empreitada degustativa para não ferir o coração de ninguém, seu amigo Vladimir Maiakovski  havia feito um bom trabalho neste jovem rapaz. 

Ao andar desnorteado atrás de algum lugar que lhe oferecesse peixe frito ainda próximo à rodoviária, teve uma nítida lembrança de uma professora de literatura, Nicia Zucolo, falando sobre uma ilha à duas horas de distância do centro da cidade... : "eu moraria em Algodoal... amo!" 

Guardou na memória este nome, aproveitou que tinha algumas moedas no bolso e correu para a casa das onze janelas em busca do seu peixe frito, Luma sugeriu Filhote.

Casa das onze janelas.

Uma de suas melhores lembranças vinham deste lugar, foi lá onde dançou carimbó no encerramento da 27a Reunião Brasileira de Antropologia (2010) até o seu último suspiro! Apesar do barulho ensurdecedor que vinha do bar palafitas, sentou de frente para o Rio e foi observar o cardápio como quem não quer nada... achou os preços caríssimos, mas sem pestanejar, pediu o tal do Filhote. Com as poucas moedas douradas no bolso sabia que conseguiria pagar o prato. Novamente pensou no seu método comparativo e fez uma aproximação entre o tambaqui e o pirarucu... não ousou dizer uma só palavra. Os sabores das três espécies o deixava cada vez mais desnorteado e entusiasmado com aquela região.

Quis conferir o tamanho do "Peixe Filhote" e correu no Ver-o-Peso.

Foto: Dorival Moreira, Mercado Ver-o-Peso

Chegando lá, percebeu que sua pressão baixou e quase sofreu um desmaio... era o calor. Não estava acostumado com o sol generoso daquela região... parou em um dos botecos do mercado e pediu uma Cerpa gelada. Aquilo sim era cerveja!

No meio de uma observação atenta ao Rio que estava a sua frente, presenciou uma cena que jamais esquecerá, esqueceu a busca ao Filhote e tirou o caderninho do bolso, um lápis quase sem ponta e sussurrou para si mesmo:  Neste exato momento Bukowski sente inveja de mim.

Mercado ver-o-peso, 2014. Obs: estas pessoas foram consultadas
quanto a utilização das fotos, no entanto, decidi não citar seus nomes.
O descendente de bandeirantes percebeu que ao lado de sua mesa, havia um casal que conversava inebriadamente, deixando a nítida impressão de desejo um pelo outro, coisa que jamais vira em lugar algum. Na falta do que fazer, passou a observar o casal com interesse e atenção. Notou que o rapaz, ao tentar seduzir a moça comprando para ela alguns pares de calcinha rendada nas cores preta e vermelha oferecidas por uma gentil senhora que passava vendendo perfumes e peças íntimas entre os frequentadores do bar-mercado, foi interrompido por um terceiro personagem: o romântico tatuado. Tendo em vista travar um duelo com o comprador de calcinhas e laçar o coração desta mulher que despertou o desejo de ambos, tentou neutralizar a compra das peças rendadas oferecendo nada menos que a eternidade ou até o fim de sua própria existência: a própria pele com o nome da amada... 

No exato momento em que os olhos da mulher amada se cruzaram com o olhar romântico do jovem tatuado, a vigilância sanitária cercou o espaço e grotescamente retirou o tatuador de cena o acusando de falta de higiene na sua prática de trabalho. Ele refutou as acusações dizendo que usava luvas descartáveis e máscara cirúrgica. Foi "advertido" pela figura do Estado opressor sem entender absolutamente nada daquelas acusações.

O neto de Borba Gato aproveitou a deixa, pagou as duas cerpinhas geladas e correu rumo à rodoviária. À tempo, pegou uma Van (não vá de ônibus), atravessou Belém e em duas horas chegou nos limites de Marudá. 


Trajeto de Belém a Marudá.

Agora faltava pouco, mais uns 30 minutos e estaria na Ilha de Algodoal. 





segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Dalcídio Jurandir e a Ilha do Marajó

Neste exato momento, enquanto você digita estas poucas palavras, está rolando o I Encontro de Antropologia Visual da América Amazônica, naquele mini país lindo: Belém do Pará. Fico aqui pensando, o que os organizadores queriam dizer com América Amazônica? rs curti!

Duas amadas incríveis foram selecionadas para participar deste evento com os seguintes temas:

1. Ninfomaníaca: Von Trier falando de Von trier, gênero, Natureza e Cultura.
2. "Fotos para Recordação": construção de imagens sobre a "farinhada".
3. Drácula de Bram Stoker e Segredos de Sangue: figurino, uso de cores, sexo e morte em representações cinematográficas.

Diante desta demanda pra lá de especial, fui gentilmente consultada para indicar possíveis lugares para aproveitar o tal congresso, depois das pesquisadoras participarem de todas as atividades do evento, obviamente.

Muito bem, pare tudo que estiver fazendo e vá a Ilha do Marajó.

Esta obsessão teve início com o querido Dalcídio Jurandir. Você não o conhece? Vou apresentá-lo.

Dalcídio Jurandir, 1909-1979.


Olha a cara de gente boa do meu amigo Dalcídio! grande rapaz paraense!

Deixa eu explicar quem me apresentou este querido:

"Esta monografia foi originalmente escrita em inglês e apresentada ao Departamento de Antropologia do Departamento de Columbia, como tese para doutorado sob o título: The religion of an Amazon Comunity: a study in culture change (escrita por Charles Wagley) (...) A maioria dos estudos e ensaios sôbre a vida religiosa do caboclo da Amazônia é orientada por um interêsse aparentemente folclórico, e neles se dá excessiva atenção a sobrevivência de velhas crenças, aos aspectos exóticos de algumas práticas ou de rituais, e as teorias que procuram explicar as origens dessas manifestações culturais. Exceto em alguns romances de feição original, de que destacamos o excelente "Marajó", de Dalcídio Jurandir..." (Eduardo Galvão escreveu este texto no Prefácio do seu livro: Santos e visagens: um estudo da vida religiosa de Itá, Amazonas  em 1954)

Dando uma checada rápida naquele instrumento de pesquisa vulgar (wikipédia) odiado por todos os professores e pesquisadores com escrúpulos do planeta, percebi que Dalcídio nasceu na vila de Ponta de Pedras, localizada na Ilha do Marajó (PA) em 1909. Depois mudou-se para Vila de Cachoeira onde passou grande parte de sua infância. Em Belém deu continuidade a escola formal em um dos melhores colégios da região. Com 18 anos, viajou para o Rio de Janeiro e passou um perrengue danado por lá. Para sanar esse problema financeiro, nosso jovem romancista resolveu lavar pratos de onde tirou uns trocados, e nas horas vagas revisou textos na revista Fon-Fon (de graça)... o nosso herói foi esperto!

Após três anos nesta empreitada, curtindo umas ondas em Ipanema e visitando os sebos locais, volta pra Belém por cima da carne seca escrevendo para vários jornais e revistas da capital. Militante Comunista, foi preso em 1936... neste período pós-aécio-never, os coxinha pira.

A vida deste "paraense do século" foi incrível... definitivamente, todo mundo que é legal se conhece, um nome nunca está a toa ou de bobeira num livro... acredite. Eles já beberam juntos num boteco sujo qualquer, APOSTO! Consultei os melhores e mais viajados especialistas da região e infelizmente nenhum deles possui o exemplar da belezura premiada que Dalcídio escreveu em 1947: Marajó. 

Depois dessa introdução nerd, mas super apropriada, sigo na obsessão.

Uma outra peça do quebra cabeça que nos levou a esta Ilha, foi um prêmio do Itaú Cultural ao Grupo de Tradições Marajoara Cruzeirinho, com a música "Barquinho à vela", ouvido no lugar mais inóspito para começar uma aventura à Ilha de Dalcídio. 

Ilha de Marajó, Soure, 2014.


"Barquinho à vela" fisgou o ultimo Bandeirante perdido naquela selva. 

Por estar bastante tempo separado do seu bando, uns quinhentos anos aproximadamente, este último descendente de Borba Gato perdeu a memória, mas leu alguns escritos do seu amigo Vladimir em meio ao seu sono profundo. Ao despertar, decidiu não colonizar, matar ou escravizar índios, decidiu que mesmo sem lembrança alguma de seus antigos comparsas, seria todo coração.


"nos demais,
todo mundo sabe,
o coração tem moradia certa,
fica bem aqui no meio do peito,
mas comigo a anatomia ficou louca,
sou todo coração." 
(Vladimir Maiakóvisk)

O tal desmemoriado resolveu carregar um caderninho embaixo do braço, inspirado no modo de trabalho dos primeiros viajantes e antropólogos pós-malinowski, tal como aprendeu na sala de aula com Marta Amoroso. Disse que ao voltar, contaria uma história que muitos não acreditariam, nem mesmo ele: "serão histórias não imaginadas". Acrescentou com a voz empostada: "Jamais dormirei novamente"!!! nos fazendo lembrar da película famosa: E o vento levou.

Munido deste equipamento simples e eficaz: lápis, caderno e alguns remedinhos pro estômago, embarcou na primeira aeronave e foi visitar o queridão Dalcídio, digo, foi em busca do Cruzeirinho de Soure para recuperar os anos sonolentos de outrora.

De uma coisa ele tinha certeza: boa música faria parte dos planos.

Grupo Cruzeirinho no Cultura Ponto da Ponto.


segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O Baobá

A raiva e o ódio são sentimentos flutuantes... mesmo levando super a sério o projeto "Dalai Lama 2014", aquela nuvem cinza vez ou outra pousa sobre a sua cabeça...

DICA: transfira toda essa explosão de raiva para o calor de Manaus, se você está cansado da falsidade na humanidade, saiba que esse sentimento é pra lá de sincero, confie imediatamente e junte-se aos que estão fritando de ódio.

Por estar frequentemente na dúvida se é implicância besta ou Manaus está assustadoramente quente, passe a observar a cidade, melhor, os trajetos que você faz até chegar em casa.

Neste domingo, invente de caminhar pelas ruas, próximo ao meio dia... 

Fonte: Charge de jota
Para não parecer reclamação de gente fresca, vai aí os resultados obtidos da mais nova religião: a ciência, vou explicar.

Num dia de sol a pino, João, Rutenio, Cristiano e Cisnea, deram-se as mãos e resolveram escrever um artigo bem fofura total em Manaus (2010): "Avaliação de conforto térmico urbano, com base em dados de temperatura - um estudo de caso na cidade de Manaus".

O resumo da empreitada é o seguinte: 

O monitoramento térmico ambiental foi realizado contemporaneamente em três locais distintos na cidade de Manaus, na forma de medidas de temperatura superficial e ambiental (1,0 metro acima da superfície) em quatro ambientes distintos: rua, local sem cobertura vegetal (LSC), local com cobertura vegetal (LCC) e interno (residência), em dois períodos (março e outubro) do ano de 2010, representativos dos períodos chuvoso e de estiagem. As medidas foram realizadas por um período de 24 horas, com espaçamento de 4 horas. Os resultados mostram a grande importância ambiental da cobertura vegetal, quer pela contribuição no arrefecimento da temperatura como no equilíbrio térmico. Entre os ambientes investigados, o interno (residência) mostrou comumente maior estabilidade térmica (variação de 0,7 oC para as temperaturas ambientes e de 0,2 oC para as superficiais), enquanto que as maiores variações de temperaturas ocorreram no ambiente Rua (superficiais). As medidas ambientais externas e em exposição direta, são mais suscetíveis às mudanças de tempo como às variações devidas a sazonalidade.

Essa pesquisa é FANTÁSTICA! 

Vou pegar a parte que nos interessa (o artigo completo está no link acima):

Esses resultados mostram, de forma inequívoca, a grande importância da cobertura vegetal no equilíbrio térmico, quer pela sua contribuição no arrefecimento da temperatura como no equilíbrio térmico.

Tudo certo, com os dados na mão e a fundamentação na ponta da língua, você precisa ir atrás de uma "cobertura vegetal" bem linda pra chamar de sua. Anuncie que você irá plantar uma árvore na frente da sua casa para substituir o coitado do "brasileirinho"que foi acusado de ter fungos e morreu assassinado por esses dias...

Brasileirinha lindona!

Não esqueça de gravar (com gravador) as respostas, são dados dignos de uma pesquisa:

- Árvore é escada pra bandido;
- Árvore quebra calçada;
- Árvore acaba com o muro, muito perigoso;
- Árvore tem muitos galhos e pode arrebentar o carro com uma chuva forte;
- As folhas "sujam" as calçadas;
- Árvore "dá" lagarta de fogo e percevejo.

Depois de usar técnicas sujas de manipulação, apele para a distinção... não há quem resista.

O próximo passo é escolher a espécie: FLAMBOYANT... suspiros... (nada de mimimi regionalista, hoje eu tô cosmopolita, num outro texto falarei de castanheiras e seringueiras... )

Sem palavras... 

O mais legal do Flamboyant é que mesmo se o vizinho da frente tiver ódio profundo de "cobertura vegetal colorida", ele vai ter que engolir essa belezura avançando até o outro lado da rua! Se contestarem o tamanho da árvore antes do plantio, MINTA. Diga que é só um arbustinho vermelho bonitinho... depois de grande ninguém arranca, vai por mim.

Se nada der certo, em protesto a esse mundo louco, aproveite o buraco na calçada (que ainda está aberto), vá no mercado livre, compre uma semente de BAOBÁ (MORRI!) e plante escondido, não precisa de água, ele está acostumado com secura:



Baobá no seco


Baobá no molhado

Espere crescer até o "buchinho"dele virar o bar mais legal do mundo :D


Refazenda, Gilberto Gil

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

notas sobre a arrogância e outras aventuras metereológicas

Diante de fenômenos meteorológicos, furacões, tornados, toró´s e ventanias capazes de levar embora sua casa, seu quarto, sua rua, suas árvores favoritas, amigos, professores, namorados, cadernos, roupas, anotações antigas, lembranças e por sorte, a sua memória, ocorrerá que muitos irão se surpreender com a sua nudez e crueza diante desta nova realidade.

Foto de Patrícia Bruniera

Ser cru, de acordo com uma tradicional classificação inventada agora, é deixar aflorar tudo que presta e não presta em você e acabar se indispondo com todas as pessoas que te conheciam (ou as que tiveram a infeliz ideia de cruzar seu caminho) até não sobrar mais ninguém pra você brigar, aí é que as coisas começam a melhorar pro seu lado, sobra você, finalmente, só você! 

Trace uma batalha épica e incansável com você mesma até não aguentar mais, não desista! cada palavra hostil de você à você, vale cada centavo daquela cadeira de psicólogo caro. 

Depois de nocautear você mesma e transformar sua alma e carne em pó, pegue um pedaço de papel e comece a rascunhar coisas, eu disse coisas! porque nada vai fazer muito sentido.

Se você pensou que iria juntar os móveis quebrados e as roupas rasgadas pelos ventos loucos mencionados acima, se enganou, abandone-os. Vá embora, sem roupa e nada na mala, aliás, sem mala.

Quando você começar a andar com as pernas que você desenhou e pintou com a ajuda dos poucos amados que ficaram e vir um filho da puta* te chamar de arrogante às suas costas, faça o seguinte:

1. Reflita se o filho de cão tem razão, você fez uma escolha: preferiu a raiva do que a pena;
2. Pergunte aos seus amigos mais próximos uma análise sincera do seu comportamento nesse um ano e meio;
3. Peça desculpas por algum comportamento rude, quem gosta minimamente de você, vai entender;
4. Se afaste de pessoas escrotas, não seja bobo, elas existem;
5. Queira bem quem te quer bem: você nunca será Mahatma Ghandi;
6. Faça sua parte e mande-o tomar no meio do cu*, simples como o azul claro do céu que resolveu abrir pra você :) 
7. Ninguém tem o direito de ser filho da puta;
8. Faça um esforço para não se tornar um (FDP) ao longo do tempo.


*puta: é uma classificação que não deveria ser utilizada como agressão verbal diante dos novos direitos, relações de trabalho e respeito a essa categoria de labor.
*cú: neste espaço, não pretendo deslegitimar quaisquer formas de prazer. 



segunda-feira, 18 de agosto de 2014

quarta-feira, 30 de julho de 2014

domesticando cidades

Se as ruas largas, o asfalto infinito e os noticiários violentos te assustam... calma, há algumas formas de você domesticar o concreto selvagem:

1. Comece pelas calçadas, passe a caminhar pelas manhãs até a padaria ou supermercado mais próximo todos os dias, mesmo num dia estranhamente frio, procure cumprimentar as pessoas, "bom dia" antes de qualquer coisa é bem gentil e te facilita a vida, acredite;

Rio de Janeiro, 2014.


2. No intuito de participar da vida dos nativos, passe a fazer atividades físicas mínimas, essa ação no corpo é extremamente valorizada neste local, finja ser uma celebridade da novela de Manuel Carlos e comece caminhando, não vá mentir para si mesmo e acordar entrevado na manhã seguinte;

3. Faça amizade com os transeuntes centenários da praia e não confunda suas atividades com Yoga, trata-se uma ginástica engraçada onde além de fazer umas coisas esquisitas com os braços e pernas, você diz a si mesmo, em voz alta, que merece paz, sol, mar, saúde, dinheiro e saladinha. Não os ridicularize, esse ritual é feito todos os dias há mais de 20 anos;

4. Assim como no país Cubano você podia comprar em cada esquina os diários originais de Ernesto Guevara, aqui você acha em cada esquina as partituras originais de Vinícius de Moraes... segure seu dinheirinho! a terra da bossa nova não brinca em serviço!

5. Assista o pôr do sol olhando para aquelas duas pedras gigantes e reflita sobre as diferenças estéticas entre aquelas montanhas e a "Bela Adormecida" de São Gabriel da Cachoeira... 

6. Procure fincar bandeira em pequenos espaços, pode ser uma praça, uma rua, A BIBLIOTECA NACIONAL, o lugar que vende sua empadinha de queijo favorita ou o suco mais sensacional do planeta! não tenha pressa, faça uma rotina e tenha uma mini vida sem atropelos, o apressado come cru. 

Saborear cidades em pequenas colheradas pode ser incrível!








sexta-feira, 18 de julho de 2014

casa de caba, o espetáculo



casa de caba: Erika, Alfredo, Samir, Jeorgio, Magaiver, Paulo, Josias.
foto: acervo da banda.


São eles, seis meninos e uma fantástica menina, não, ela não só enfeita o palco, enquanto "eles" tocam, cantam, Érika concentra, incorpora e domina o fluxo da banda, a percussão que nada mais é que um coração batendo forte e sincopado harmonizando com a performance que está por vir. Alfredo, com o instrumento de sopro, é a cereja do bolo: fantástico!

Dessa maneira, apresento a banda a partir das primeiras pistas do que Casa de caba é capaz.

Minha primeira experiência, foi a partir de um espetáculo dentro de outro espetáculo, vou explicar.

Aprendi com Fredrik Barth que "descrever não é explicar", longe de querer explicar a experiência que é assistir uma apresentação desse organismo vivo no palco pulsado por este coletivo encantado, a descrição já me garante um excelente treinamento na escrita e convenhamos, é um trabalho árduo fazê-la com um mínimo de sinceridade.

Quando escrevo um "espetáculo dentro do espetáculo", me refiro ao primeiro deles: a vista do ao mirante... que lugar! 

Fonte: nossas raízes.

A caba, aos não nortistas, é um inseto conhecido em outras partes do país como vespa ou marimbondo, aquele que tem um ferrão assassino sabe? Uma picada do bichinho dá uma super febre, o local incha e fica umas 24h dolorido, falo com propriedade pois já fui vítima em uma das piscinas da vila olímpica (antes de ser ameba, já fui uma atleta! rs)

A caba
Foto: Juvenal Canto.


Em poucas palavras, "casa de caba" é sinônimo de afaste-se. 

Lembro que quando a primarada se reunia em algum sítio (chácara), era uma emoção absurda encontrar uma casa de caba no caminho que fazíamos, os mais endiabrados chegavam bem perto e tacavam pedras ou pedaço de pau, a platéia ficava alucinada esperando cair partes daquela bola marrom pendurada no tronco da árvore - alvo. Apesar do pavor, todos tinham o desejo interno que aqueles "helicópteros assassinos" voassem de suas casinhas para sairmos gritando loucamente em busca de refúgio, tudo era uma grande diversão.

Casa de caba
No dia que os assisti, eles mantiveram um mosquiteiro no palco com muita razão, a caba é foda... não perdoa ninguém. No entanto, neste domingo de ao mirante, não havia mosquiteiro, o que abre espaço para uma reflexão interessante. 

Entre o povo Sateré-Mawé, há um ritual de iniciação conhecido como o "Ritual da Tucandeira", em resumo é o seguinte: Várias formigas vivas são colocadas num chá de folha de caju amassada para que as tucandeiras entrem numa espécie de transe ou desmaio... elas não morrem, só ficam ali, quietinhas, tirando um cochilo. 

Paralelo à esta atividade, é confeccionada com palha verde um tipo de luva, de maneira que as formigas "adormecidas" sejam colocadas delicadamente em cada buraquinho do trançado, os ferrões ficam arrumados na parte interna.

Fonte: TVAB Manaus.

Aos poucos, a belezocas vão acordando e os rapazes vão se organizando e passam horas com as mãos dentro da luva... eu disse horas! Pra que? ora... prestígio, saúde, honra, muitos se tornam guerreiros e ótimos caçadores, há boatos que o que aguenta mais tempo namora a mais gata* da aldeia.

Fonte: TVAB Manaus


* Advirto que isto é um blog com o objetivo de cultivar plantações de abobrinhas e não uma revista científica, sugiro buscar literatura específica ou um especialista caso se interesse pelo assunto, neste caso a querida Kalinda Felix. Acrescento que este texto não será discutido na Associação Brasileira de Antropologia (ABA) este ano.

Vamos voltar a "Casa de caba".

O mosquiteiro no palco significa a suposta "proteção" de quem não aguenta as ferroadas. Quando você menos espera, o espetáculo começa, melhor, a casa de caba é atingida por um pedaço de pau que simbolicamente saem em disparada em direção à plateia... Não fuja! É pura adrenalina!

Magaiver
Foto: acervo da banda.

O vocalista, vulgo Magaiver, tem uma presença de palco que impressiona. É quase inacreditável estar presenciando aquele show absurdamente artístico e performático num domingo tão despretensioso naquele lugar que você adora... apresentação de riqueza extraordinária, domínio do corpo, teatro, poesia, música... único, aliás, cada show é único... haja criatividade, é de arrepiar! 

De acordo com o querido André de Moraes, o rapaz compõe as próprias músicas, são críticas, criativas, divertidas, desconstrutoras, deliciosamente dançantes! "spray de pimenta" e "cavalo do cão" são viciantes!!!

Veja essa entrevista no fb: Casa de caba


Casa de caba no teatro



Se você se assanhou pelo princeso, aquiete o "facho", o amor é lindo e a moça é gata pacarái.

*

Vamos esperar... assisti-los é uma experiência de sentidos, abra mão do mosquiteiro, casa de caba surpreende.


"o progresso não gosta de índio"
Os antropólogo pira.

sábado, 12 de julho de 2014

o trabalho e a lepra

Homem infectado por lepra, esse está em ótimo estado,
não tente usar o google. 

A lepra é vulgarmente conhecida como a doença mais antiga do mundo e afetou a humanidade por aproximadamente quatro mil anos. É contagiosa e pasmem: seus sintomas aparecem em dois ou cinco anos, no geral. 

Durante muito tempo as pessoas contaminadas eram convidadas a se retirar do meio social nos antigos leprosários, no Amazonas, você pode conhecer uma ruína fabulosa, que funcionou como abrigo para esses rejeitados, na Vila de Paricatuba, poucos minutos de Manaus.

Dito isso, saiba que ao mergulhar em algum trabalho de escrita ou similares, teus amigos vão te tratar como se você tivesse contraído tal doença, nem adianta deprimir, aceite. Além de fudida de verde e amarelo por razões que você sabe, nem um botequinho pra afogar as mágoas e falar abobrinhas numa sexta feira ingrata você terá.

Vingança é um prato que se come frio. 


Os internos do leprosário de Paricatuba eram proibidos 
de receber visitas. 




sexta-feira, 11 de julho de 2014

ginger mango

quando a culpa não vem...


A mula moscovita sem cabeça.


Que tipo de vídeo é esse Brasil????
Quem fizer primeiro (a bebida) convida, pelo AMOR!!!

segunda-feira, 7 de julho de 2014

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Moema, Victor Meirelles

Num dia friorento e cheio de culpa, resolva dar uma voltinha na Babilônia, a antiga terra do café deve ter algo para oferecer numa terça feira: o museu é de graça!

Logo no primeiro andar, você começa a desconfiar da originalidade daquela cambada de quadros... gente, como aquelas pinturas chegaram ali? doação? compra? MASP está de parabéns na miguelagem, digo, na articulação para que aquelas obras ocupem o território brasileiro. 

Queria saber se o processo de "aquisição" de peças nos "museus etnográficos" espalhados no planeta foram adquiridos com tanta diplomacia também... roubo? saques? claaaaro que não! 

Muito bem, na ânsia pela "civilização" do velho mundo e o desejo de adquirir capital simbólico na concrete jungle, fui dar uma voltinha sobre os tapetes vermelhos daquele recinto.

Depois de um corredor inteiro de "selfie" de realeza, santinhos, bailarinas e gostosas peladonas, cansei e passei a matutar outras coisas... quando vão aparecer os índios? quando essas pinturas vão chegar ao novo mundo?

Passei a observar as obras com sangue nos olhos: "bando de bastardos colonizadores", "vocês não me representam", "você também não", "nem você", "muito menos você"... sempre cultive uma mini plantação de ódio, vez ou outra você busca no fígado algum tipo de inspiração.

Com a certeza absoluta de estar cometendo alguma injustiça neste texto, um salve especial para dois lindos: Cândido Portinari e Paul Gauguim.

*

No meio do passeio sobre a cultura do inimigo, uma escultura lindona e singular no meio da sala chama atenção! fui correndo ver o nome do autor: "arte africana"... COMO ASSIM? QUEM FEZ? sacaram um problema? reflitam: qual a diferença dos outros artistas que compartilham o mesmo espaço? apesar da literatura (pouca) existente sobre o assunto, até hoje não tenho uma resposta muito honesta.

seguindo... nada de índio... até que no final, já sem esperança e xingando o MASP, alguns pedaços de um corpo nu, deitado e algumas peninhas na cintura... EMOÇÃO!

Me aproximei e era a Moema... 

"Moema", Victor Meirelles (1866).


Parecia estar dormindo, mas havia morrido afogada ao nadar atrás de Diogo (o caramuru), segundo algumas interpretações...

A única representação dos povos indígenas naquele cenário das artes plásticas do MASP era de uma índia morta... (suspiros)

Em homenagem, catei esse artigo e achei o poema do Frei Santa Rita Durão, sobre Moema... 
Lembre-se das aulas de literatura da sexta série: sala de aquário e professora Maria Joaquina :)


XXXVI. 
He fama então que a multidão formosa 
Das Damas, que Diogo pertendião, 
Vendo avançar-se a náo na via undosa, 
E que a esperança de o alcançar perdião: 
Entre as ondas com ansia furiosa 
Nadando o Esposo pelo mar seguião, 
E nem tanta agoa que fluctua vaga 
O ardor que o peito tem, banhando apaga. 

XXXVII. 
Copiosa multidão da náo Franceza 
Corre a ver o espectaculo assombrada; 
E ignorando a occasião da estranha empreza, 
Pasma da turba feminil, que nada: 
Huma, que ás mais precede em gentileza, 
Não vinha menos bella, do que irada: 
Era Moema, que de inveja geme, 
E já vizinha á náo se apéga ao leme.

XXXVIII. 
Barbaro (a bella diz) tigre, e não homem... 
Porém o tigre por cruel que brame, 
Acha forças amor, que em fim o domem; 
Só a ti não domou, por mais que eu te ame: 
Furias, raios, coriscos, que o ar consomem, 
Como não consumis aquelle infame? 
Mas pagar tanto amor com tedio, e asco... 
Ah que o corisco és tu... raio... penhasco. 

XXXIX. 
Bem puderas, cruel, ter sido esquivo, 
Quando eu a fé rendia ao teo engano; 
Nem me offendêras a escutar-me altivo, 
Que he favor, dado a tempo, hum desengano: 
Porém deixando o coração cativo 
Com fazer-te a meus rogos sempre humano, 
Fugistes-me, traidor, e desta sorte 
Paga meo fino amor tão crua morte? 

XL. 
Tão dura ingratidão menos sentira, 
E esse fado cruel doce me fora, 
Se a meo despeito triunfar não vira 
Essa indigna, essa infame, essa traidora: 
Por serva, por escrava te seguíra; 
Se não temêra de chamar Senhora 
A vil Paraguaçu, que sem que o creia, 
Sobre ser-me infrior, he nescia, e feia. 

XLI. 
Em fim, tens coração de ver-me afflita, 
Flutuar moribunda entre estas ondas, 
Nem o passado amor teu peito incita 
A um ai somente, com que aos meus respondas 
Barbaro, se esta fé teu peito irrita, 
(Disse, vendo-o fugir) ah não te escondas; 
Dispara sobre mim teu cruel raio... 
E indo a dizer o mais, cahe n’um desmaio. 

XLII. 
Perde o lume dos olhos, pasma, e treme, 
Pállida a côr, o aspecto moribundo, 
Com mão já sem vigor, soltando o leme, 
Entre as salsas escumas desce ao fundo: 
Mas na onda do mar, que irado freme, 
Tornando a apparecer desde o profundo; 
Ah Diogo cruel! disse com mágoa, 
E sem mais vista ser, sorveo-se n’agoa.

XLIII. 
Chorárão da Bahia as Nynfas bellas, 
Que nadando a Moema acompanhavão; 
E vendo que sem dor navegão dellas, 
Á branca praia com furor tornavão: 
Nem pode o claro Heróe sem pena vellas, 
Com tantas provas, que de amor lhe davão; 
Nem mais lhe lembra o nome de Moema, 
Sem que ou amante a chore, ou grato gema





quarta-feira, 4 de junho de 2014

O dia que o livro ganhou da internet

Queria escrever um texto bem bonito, explicando como o livro ganhou da internet,
o dia em que se podia ler uma coisa de cada vez, nos mínimos detalhes,
o dia em que o risquinho de lápis no canto da página era sinônimo de carinho com a folhinha de papel.

maldita internet!

Sério: Serviço de desintoxicação da internet.


terça-feira, 27 de maio de 2014

mini plantação de ódio

Aí vem o Dilermano e acaba com a minha mini plantação, vida difícil...

Dilermano Reis, olhos negros.


X: ainda não entendi sobre o que é essa música, tu ouviu? ouve!
Y: eu ouvi duas vezes, mas estava conversando contigo, não vale.
X: não consigo... ontem eu ouvi umas trinta vezes, sem sacanagem, fui dormir com ela na cabeça e nada...
Y: Calma, vai ver ela tem um sentimento que tu ainda não experimentou...
X: Pode ser... mas sei lá, tem alguma coisa de proibido aí! certamente é sobre conquista, olhos negros e tals... mas tem algum impedimento, classe ou etnia! ele pobre, a mulher rica ou ele negro e a mulher branca! ele começa dramático, tipo um título "esta música trata-se de um drama", mas depois fica mansinho, meio rodeando... ahhhh pode ser uma mulher casada também! É isso! mulher casada!!!!! Se declarando, meio constrangido, triste e pedindo desculpas! mas ele não desiste, segue firme no xaveco choroso, vê só: 1:46 ele se altera, dá um pití pra ela ceder, percebeu que não colou, daí ele volta a se declarar e tentar convencê-la! Em 2:18 é SENSACIONAL, acho que tá sugerindo segredo!!!! ehhhhhhhhhhhh segredo!!!!!!! Achava que ele tava tentando fazer uma gracinha ou piadinha... não! é segredo!!! Mas acho que ela continua durona e ele apela com o lamento escancarado lindão! No final é: "não rolou mas foda-se, valeu pela musiquinha" :D
Y: Hum... preciso ouvir novamente... vou dormir, beijos!


O problema de ter roupantes sobre a arte da especulação é que empolgação é um sentimento solitário, aceite.

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