sempre tive o mesmo cabelo, digo, o mesmo corte, a mesma cara lambida.
depois
do campo, aquele cabelão todo me irritou profundamente... embaraço,
sujeira, calor. tudo contribuiu... inclusive a sugestão xamânica, deixa
ele solto: ok.
no alto da minha rebeldia, decidi: vou cortar!
- oi, tudo bem?:)
- oi querida, você já cortou aqui alguma vez?
- não, primeira vez :)
- você vai adorar o salão. já sabe o corte?
- já. tira um dedo e meio e faz um franjão :)
- só isso?
- só. :)
- mas tu não quer mais volume?
- é... pode ser, mas deixa com formato de "U" atrás.
esse meu simples "é... pode ser" com conotações de indecisão sobre o
destino daquelas células mortas, vulgo cabelo, foram o suficiente para
aqueles olhos famintos por criação entrarem em ação.
(silêncio)
Nesse hiato foi que eu comecei a me preocupar...
porque eu não vi um tutorial do youtube e EU MESMA cortei meu cabelo? seria divertido...
aquele "simples" cabeleireiro cheio de charme e estilo, abriu um leque de
tesouras e faquinhas afiadas de todos os tamanhos e formatos com uma
habilidade impressionante... "arrupiei".
percebi
que ele cagou pra minha referência careta de formato "U" e franjão.
Esses profissionais, assim como a costureira, (vale um post sobre elas),
ODEIAM a sugestão do pobre mortal que vos fala.
O
MARAVILHOSO filme coco chanel, já havia me advertido que essas
categorias de trabalho, costureira, cabelereiro, cozinheiro... vem
ganhando/ganharam uma aurea de artista do ofício que escolheram para si:
estilistas, hair stylis, chef´s... verdadeiros artistas!
Ai
de você se pede para um cozinheiro, digo, o chef mudar o prato que ele
criou, sim, estamos falando de criação, com direitos autorais e tudo.
Não é à toa que o festival "comida de buteco" vem fazendo tanto
sucesso... a sacada é sensacional... você quer conhecer e cumprimentar o
responsável pela "obra", impressionante.
Vamos voltar ao HAIR STYLIST queridinhos.
APRENDA: não se meta, ele sabe o que está fazendo, ou torça pra que ele saiba.
*
o ritual começou:
Inicialmente, ele pediu para que eu sentasse naquelas cadeiras onde o
corpo fica semi deitado e o pescoço encaixa numa "pia", pro cabelo ser
lavado e hidratado antes do sacrifício, digo, do corte.
aquela
massagem maravilhosa e aquele chuveirinho fazendo a água escorrer na
sua cabeça, é uma preparação/anúncio das tormentas que virão.medite. ele
tentará te enebriar com a sensação de relaxamento que aqueles
movimentos proporcionam, você não pensa mais em nada, só naquelas mãos
amassando seu cocuruto... incrível... aceite, isso foi o mais próximo de
uma pegação que você já teve nos últimos tempos, aproveite.
Natasha T. Batista cansada de guerra foi no céu e voltou.
Passada
a fase delícia, ele pediu para que eu sentasse numa outra cadeira. esse
"trono" já te deixa com o corpo mais ereto e de frente para um espelho
gigante cheio de parafernalha, digo, dos instrumentos necessários para
que a cirurgia dos pelos aconteça.
é colocado um babador gigante para que os "filhotes arrancados" da mãe não suje você. pegue suas mãos, junte-as e ore.
Ele
tinha um instrumento curioso, que parecia um pente... mas havia uma
faquinha escondida que fazia os mais diferentes cortes naquele cabelo
sofrido da vida... a cada "penteada" saia uma porrada de cabelo.
desesperei...
mas
resolvi (como se houvesse escolha ¬¬) confiar naquelas mãos sérias,
compenetradas que demonstravam um domínio absurdo no ofício, na navalha,
na tesoura, no pente.
quis falar NÃO CORTA MAIS ESSA PORRA!
quis sair da cadeira...
quis pedir pra ele pegar leve...
quis dizer "moço, eu não pedi isso..."
mas calei e fiz cara de paisagem.
Tive uma sensação súbita de que eu não podia tirar aquele sujeito do transe...
ele havia traçado um objetivo no meu cabelo, qualquer interrupção poderia ser fatal.
deixei rolar e pensei: essa bosta vai crescer, relaxa garota!
Ao final, ele resolveu secar... e aí eu comecei a aliviar...
A cada puxão, digo escovada, o corte aparecia com mais notoriedade, mudando o formato do rosto, inclusive.
Ficou mais curto do que eu esperava, pensei, no alto da minha ignorância e chatice com relação ao trabalho do artista.
Quando terminou, aqueles olhos curiosos me perguntaram com bastante calma:
- você gostou?
- amei querido, muitíssimo obrigada.
fiquei
me querendo loucamente na frente do espelho, fiz minha própria
arrumação na juba e dei um abraço apertado e um sorriso bem grandão de
agradecida, seremos best! hahaahhahah
Reflexões
importantes: nem tudo está sob o seu controle, e essa sensação sempre
me desespera... acreditar no outro, o ateísmo que me perdoe, é um ato de
fé. somente. você acredita ou não.
se eu vou voltar?
não sei... imaturidade, sensação de controle, apego à bosta do cabelo... ainda tenho um caminho árduo.
se me aventurar pelas águas do youtube, aviso.
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