Lévi-Strauss sobre a pintura Kadiwéu:
Envolve, além do valor decorativo, um elemento
sutil de sadismo que explica, ao menos em parte, por que o apelo erótico das
mulheres kadiwéu (expresso nas pinturas e por elas traduzido) atraía outrora
para as margens do rio Paraguai os fora-da-lei e os caçadores de aventura.
Vários deles, hoje envelhecidos e instalados maritalmente entre os indígenas,
descreveram-me, palpitantes, os corpos de adolescentes nuas completamente
cobertos de teias e arabescos de uma sutileza perversa. (LÉVI-STRAUSS. O
desdobramento da representação nas artes da Ásia e da América. In:Antropologia Estrutural II.p. 273, 1958)
Este parágrafo foi citado e comentado pela autora Dorothea
Voegeli Passeti (2008) no livro “Lévi-Strauss, antropologia e arte minúsculo, incomensurável” da seguinte forma:
Todo antigo
entusiasmo desaparece, como se as “mulheres com pose de ídolos” agora fossem
reduzidas a perversas conquistadoras de homens, aguçando o gosto sádico de
aventureiros e criminosos através de um artifício aparentemente mutilador de
seus próprios corpos.
Lévi-Strauss
adverte, do primeiro ao último parágrafo desse artigo, que a arte primitiva
deve ser analisada através de métodos cada vez mais científicos. Se o erotismo
da pintura kadiwéu lhe parecia algo inexplicável pelo desejo masculino, agora
recebe um tratamento objetivo e racional: a deformação artificial do rosto pela
pintura, substituindo uma cirurgia impossível e inacabável, produz um efeito
sádico, como se, de fato, o rosto ficasse mutilado. O argumento parece se
aproximar, perigosamente, daquele dos primeiros missionários. (PASSETI, 2008,
p. 155)
Ignore essa discussão de Claude e Dorothea,
na dúvida, cubra-se dessa "sutileza perversa" do qual suspirava Lévi-Strauss...
pintura corporal, espiritualidade, sexualidade. não necessariamente nessa ordem.
escolha uma para chamar de sua... recomendo muito.
Lindo!
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