quinta-feira, 20 de junho de 2013

Pai, afasta de mim esse cálice


Estar diante de situações complexas, ainda que seja absurdamente inspiradoras, me paralisa, preciso de tempo pra processar.

Acho uma imensa picaretagem dar uma opinião sucinta, classificatória, que reduz o fenômeno à uma mera opinião sem fundamentação ou respeito diante de algo que você não entende muito bem o que acontece.

Assumir as suas limitações é o primeiro passo.

Fui a manifestação que aconteceu no dia dezessete de junho em Belo Horizonte, tirei fotos, pena que o instagram não estava funcionando, conversei com manifestantes e policiais, levantei cartaz “demarcações de terras indígenas já” e gritei umas quatro frases de efeito em coro.

No meio dessa experiência política-sinestésica, ouvi um estrondo que mesmo que tenha sido um peido de velha de festa junina, fiquei com aquele barulho na mente... poderia ser uma bomba.

Ensaiei umas rotas de fuga e evitei ficar próxima de grades... ser esmagada num momento histórico desses e não me exibir para as futuras gerações estava fora de cogitação.

Tive medo, orgulho e um sentimento utópico gigante de mudança iminente.

Vi no facebook um gracejo:

"Se seu filho vai às ruas, porque na rede social (facebook) foi combinado um protesto, antes dele sair, indague-o:

O que é corrupção? O que são obras paradas do PAC? O que é o escândalo da Rosemary? O que foi e ainda é o mensalão? Qual foi gasto para a reforma e construção dos estádios? O que é infra-estrutura deficiente? O que é a PEC 37? O que é o escândalo da refinaria da Petrobrás? O que é o estatuto do nascituro? Qual o preço de um plano de saúde? Quanto tempo leva a marcação de uma consulta no SUS? E uma cirurgia? Para que servem médicos cubanos?
Se ele responder pelo menos 60% destas perguntas, ainda que quase corretas, coloque nele um capacete, um óculos de proteção e dê-lhe um vidro de vinagre para os olhos, próprios e alheios. Diga para ele não quebrar nada e se afastar do corpo-a-corpo com a polícia. Correr só se der tempo. Se preso, deitar e não resistir.
Agora, se ele nada souber sobre tudo que for perguntado, mas achar que é legal protestar, prenda-o em casa, porque é melhor a repressão familiar do que a borracha corretiva dada à um ignorante alienado. Diga a ele para ler mais, ainda que no Google e na Wikipédia.
Sugira a ele ouvir, de vez em quando, o Trueoutspeak. Soletre para ele, que na internet (google) ele vai achar o link."


Ri, gostei.

Mas faço algumas ressalvas:

Ainda que muitos não entendam o seu símbolo favorito:




ainda que façam interpretações apressadas, ainda que muitos pensem ser apenas divertido encontrar os amigos e achar que se trata de um baile de máscaras,



ainda que você queira, finalmente, usar aquelas frases lindas do Chico e apresentar as suas fotos no facebook todas em preto e branco pra entrar no clima...


ainda que você sinta um imenso pesar de você não ter colocado na mochila aquela sua camiseta do MST que você ganhou naquela passeata da Venezuela, ainda sim, vá.



Caminhar pelas ruas e perceber que em cada esquina, e sei que em todas as casas, as pessoas dedicaram alguns minutos da sua vida para se questionar por que raios o hospital tá uma merda e as obras do estádio vai de vento em polpa... refletir minimamente, pra onde o país, está caminhando... escrever alguns parágrafos raivosos do alto da sua cadeira no facebook, e criticar o sistema educacional do pais... é lindo de ver e sentir.

Penso que toda essa “representação performática” de pessoas ditas “não politizadas” tenha valido a pena.

Aos mentirosos, falsos, alienados, fúteis e baderneiros, principalmente aos baderneiros,


O meu muito obrigada.

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