quinta-feira, 14 de março de 2013

mon ami, mon amour*

*homenagem à primeira aula de francês, na manhã de sábado mais doce.

o mais lembrado dessa semana foi o estimado augusto dos anjos. apresentado a mim, por um edital de vestibular, cujo livro que deveria ser comprado para o processo seletivo era o "eu e outras poesias". nunca o esqueci. tenho-o aqui, com dignas páginas amarelas, a minha versão L&PM pocket. 

Augusto dos anjos (1884-1914)

apresentarei a "psicologia de um vencido", por ser emblemático àquela adolescente que ficou impressionada com essas poesias inusitadas: 

Eu, filho do carbono e do amoníaco, 
Monstro de escuridão e rutilância, 
Sofro, desde a epigênesis da infância, 
A influência má dos signos do zodíaco. 

Profundíssimamente hipocondríaco, 
Este ambiente me causa repugnância... 
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia 
Que se escapa da boca de um cardíaco. 

Já o verme — este operário das ruínas — 
Que o sangue podre das carnificinas 
Come, e à vida em geral declara guerra, 

Anda a espreitar meus olhos para roê-los, 
E há-de deixar-me apenas os cabelos, 
Na frialdade inorgânica da terra!

fantástico, não?

"versos íntimos" ganha de disparada no meu top dez do querido dos anjos, 
sempre citado em momentos de gracejo, apenas nestes:

Vês! Ninguém assistiu ao formidável 
Enterro de tua última quimera. 
Somente a Ingratidão – esta pantera – 
Foi tua companheira inseparável! 

Acostuma-te à lama que te espera! 
O Homem, que, nesta terra miserável, 
Mora entre feras, sente inevitável 
Necessidade de também ser fera. 

Toma um fósforo. 
Acende teu cigarro! 
O beijo, amigo, é a véspera do escarro, 
A mão que afaga é a mesma que apedreja. 

Se a alguém causa inda pena a tua chaga, 
Apedreja essa mão vil que te afaga, 
Escarra nessa boca que te beija!


No entanto, para a celebração desta escrita, dedico "idealismo"
como o carro abre alas deste  texto:

Falas de amor, e eu ouço tudo e calo 
O amor na Humanidade é uma mentira. 
E é por isto que na minha lira 
De amores fúteis poucas vezes falo. 

O amor! Quando virei por fim a amá-lo?! 
Quando, se o amor que a Humanidade inspira 
É o amor do sibarita e da hetaíra, 
De Messalina e de Sardanapalo? 

Pois é mister que, para o amor sagrado, 
O mundo fique imaterializado 
— Alavanca desviada do seu fulcro — 

E haja só amizade verdadeira 
Duma caveira para outra caveira, 
Do meu sepulcro para o teu sepulcro?!
(grifos, propositais, meus)

Aos desavisados, eu não seria tão óbvia, nem estúpida.

Perpetuando o meu circuito do ócio naquele prédio lindo que abriga o centro de artes da UFAM, venho acompanhando durante três semanas, o trabalho dos irmãos Joel David e Ethan Jesse com atenção. procurei não ler nada sobre os filmes pra não "contaminar" minha sensibilidade. pra minha surpresa, gostei da aposta!


the man who wasn't there é absurdamente bonito, todo ele.

Sinto dizer ao estimado augusto, com todo respeito, que nessa ele perdeu feio para os coen.




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