sábado, 7 de dezembro de 2013

"a música das cachoeiras" e a ciência


Ontem recebi um e-mail sugerindo um "seminário de pesquisa" com os colegas, vou mostrar a parte que interessa:

"Chamei de metodologia, mas sem rigor científico (por favor não ria)"

Sinceramente, alguém ainda acredita que alguma coisa é feita com rigor científico? 

vamos aproveitar a fala da Manuela, nesse entrevista cheia de ratadas e constrangimentos (da jornalista, claro):

"curiosa pergunta..." hahahahahahahaaha

Se for árduo pra você assistir esse vídeo num sábado, não se violente, sério. respeite seus miolos.

faça só um esforço de OUVIR até os dois primeiros minutos, ao menos é a parte que interessa... ou se você acordou ambicioso, deixe rolar a entrevista enquanto você mexe naquele sangue-suga chamado facebook... ou arrume seu quarto, prefira a segunda opção. Lá tem vários argumentos que podem te ajudar a se exibir por aí... inclusive conquistar aquela menina gata, linda, sensacional que te deu mole na balada.

Para escrever um texto acadêmico ou um blog, você deve se acostumar em ser arbitrário/ditador, cada escolha (se o seu orientador permitir, claro), texto, parágrafo é uma ordem. ai que delícia! hahaahahah, ok, mentira. é um sofrimento.

É nesse contexto ditatorial que acrescento o "culto da emoção" pra chegar no lançamento de um livro-CD que eu fui ontem:

resolvi homenagear a minha cópia.

Eu juro que não lembro qual foi a disciplina que eu usei o texto, se foi em "prática de pesquisa" ou em "teoria antropológica III"... mas nem interessa, você pode comprá-lo no estante virtual com poucos reais.

"a sociedade atual perdeu a capacidade de sentir".

será?

"quando a atualidade imediata não traz o seu quinhão de acontecimentos dramáticos, a cultura do entretenimento reveza-se com ela. O cinema, os seriados de televisão, os videogames, os grandes espetáculos e as imagens de síntese constituem um imenso reservatório de emoções. A emoção tornou-se um objeto de marketing cujo impacto é cuidadosamente calculado pelos donos de nosso lazer, alternando horror, surpresa, tristeza, indignação, alívio, compaixão, lágrimas e riso num jogo de contrastes que nos mantém em suspense."

*

não sejamos tão dramáticos, heheheheehe.

continuando:

"esse retorno à emoção constitui, simultaneamente, uma riqueza e um perigo. Uma riqueza, porque tempera os excessos da racionalização. A emoção é um derivativo salutar numa civilização submetida aos imperativos da ciência tecnológica e da organização". 

...

"... na décadas de 1950 e 1960, que via na emoção uma perturbação do comportamento, uma falha da ação, um deficiência. Essa nova antropologia reabilita a emoção. Ela a considera uma auxiliar da ação, uma aliada da razão".

...

pra pensar:

"é revelador que o homem contemporâneo se interesse mais pela emoção, que é de tipo explosivo, do que pelo sentimento, que tem caráter duradouro".

*

O autor é cheio de afirmações... do jeito que você gosta... rs.
Por favor, não o cite nos seus trabalhos acadêmicos, ele te ajuda a pensar. só.
depois que você aprendeu sobre a dança da desconstrução, a última coisa que você quer na vida é um prédio sólido e seguro. fluidez é a regra.

quanto aos "perigos"... jogo a bola pro leitor. já o citei demais.

*

Ahhhh finalmente lembrei!

pensei nesse do Lacroix, mas o que estava na minha cabeça foi um comentário da amiga Gê (parabéns pelo doutorado!), em uma disciplina, que também não lembro (hahahahha), sobre o pós-moderno Renato Rosalvo que num trabalho de campo junto com a mulher, ela caiu de um barranco e morreu. ele escreveu sobre isso e solidificou o que estava se chamando de "teoria das emoções". em um dos seus textos, ao investigar a morte, afirma que "muitos antropólogos eliminam a esfera das emoções, assumindo a posição de um observador distante".

Acho que esse é o legado mais importante: não eliminar as emoções. revirei tudo e não achei o texto dele de jeito nenhum... nem na internet :/

vou ver se compro o livro mesmo...

*

depois dessa introdução inesperada, apresento "a música das cachoeiras".

as imagens são lindas!!!


Se você preferiu ir ao lançamento do livro-cd do seu coleguinha de classe ao invés da festa de quarenta reais, parabéns! você ganhou esse livro lindo, que não será comercializado, para dar de presente.

Agradecimentos à pesquisadora Karina Sanches, que viabilizou tal gaiatice. :)

No evento, tive a oportunidade de cumprimentar um professor, muito querido, que ministrou uma das primeiras disciplinas que cursei na graduação: Nelson Noronha, autor do prefácio desse livro-CD encantado.

Nelson inicia o texto falando de amor e afeição, e é disso que estou falando:

"As imagens, as palavras e as músicas deste Livro-CD surgiram de uma iniciativa que reuniu amor pela arte e afeição pela pesquisa científica e filosófica. (...) o projeto nasceu do interesse de Agenor Vasconcelos pelas criações artísticas desses povos, que se desenvolveu durante suas pesquisas destinadas à redação de sua dissertação de mestrado. Sob o título de o sentido metafísico na descrição etnográfica de Koch-Grunberg: o demônio, a máscara e o falo...."

Em linhas gerais, o trabalho diz respeito a uma viagem "do Alto Rio Negro ao monte Roraima" que possibilitou encontros com indígenas de diversas etnias..., encontros musicais, artísticos, numa espécie de encontro "metafísico" (usarei esse conceito em função da formação de Agenor, ainda que o cosmológico seja bem mais sedutor) que possibilita a construção de, mais um vez, mundos possíveis.

Uma pena a banda Marupiara não estar no evento, mas aí vai um pedacinho deles:


Apiga, banda marupiara.

O que fica pra refletir é um barulhinho cada vez mais crescente de que um texto, um livro, um cd, uma dissertação ou tese são só a ponta de um iceberg. Jamais, digo, JAMAIS, darão conta do que um encontro, a experiência, um trabalho de campo, o sentimento e a emoção com o intuito de construir diálogos possíveis é capaz de fazer.

*

IMPORTANTE: Estimada alaíde negão, pare de boicotar minhas aulas de francês aos sábados pela manhã! tocar as duas da madrugada já deu! (desabafo coletivo)

música da cachoeira, carimbó do cagado (alaíde negão)

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