domingo, 1 de dezembro de 2013

a morte da galinha

"cena de candomblé", Wilson Tibério.

assista, não é música.

Muitos corações sensíveis postaram esse vídeo no facebook, inclusive a figura ilustre que eu sigo sem pudores: Eduardo Viveiros de Castro. 

a saber, não acho que teoria e camisa de força caminhem juntas.

O que ninguém se questiona, são sobre outras formas de se alimentar que estão embaixo do nosso nariz: mas sabiamente, vivem sob o manto que os protege até hoje, o segredo.

pegando o clichezão de líder de torcida de FSM, "outros mundos possíveis"... ai que bonitinho! hahahahahah e revirando loucamente meu caderninho verde limão que me acompanhou  durante essa temporada transformadora no sul da Bahia, achei um texto "pronto", mas muito fora de contexto pra caber na dissertação.

que caia no mudaréu da rede. vai que serve?

*

"uma última ave no céu", Jaider Esbell, Macuxi, 2013.


"continuação do campo, esse vai pro blog"

Desde "pintinhas", são cuidadas soltas, como crianças brincando naquela grama verdinha e de comida farta. ciscam por todos os cantos, inclusive perto da casa dos seus Orixás favoritos.

Momentos antes do ritual principal, são escolhidas... uma a uma.

Há de ter cuidado ao pegá-las, as asas se debatem com frequência e você não quer machucá-las.

Passado o momento de euforia, até ela acostumar com o seu corpo, antes de entrar no terreiro seu bico e pés são purificados com água cheirosa e delicadamente limpos/enxutos com um tecido branco. Continue a segurá-la, você vai perceber que sua respiração, coração, vão se acalmar até ela finalmente acostumar com o seu colo. curiosamente, você vai acariciar aquelas penas tão bonitas e sentir um sentimento intenso de ser a última a segurá-la neste mundo.

É iniciada a música, a dança... os escolhidos e já iniciados as levam para o local que as espera com muitas flores, enfeites, doces e a tigela de cerâmica. Lançada a sorte, todos aguardam ansiosamente a confirmação espiritual.

Passado alguns minutos, há a confirmação, todos aplaudem. Iniciam os batuques, as danças... e como num balé ensaiado, os Erês incorporam aos poucos, o corpo se transforma, a expressão é outra... quanta alegria! 

Neste momento, num só golpe, a escolhida é oferecida em sacrifício. 
Todo o seu sangue é cuidadosamente retirado.

As mulheres são convidadas a tirar as penas que as enfeitaram durante toda a sua vida. Seu adorno natural é ressignificado naquela cerâmica e as que "sobraram", é dada de presente à todos que ali se encontram. Quanta beleza!

Seu sangue será oferecido aos Orixás, por todas as dádivas diárias e pelas esperadas.

Após a cerimônia, um coletivo é acionado para preparar seu corpo nú, transformando-o em alimento de todos através do gengibre, das castanhas, especiarias, temperos, ervas e o fogo.

E assim foi passada a manhã, homens, mulheres e crianças envolvidas no preparo do caruru, do arroz, dos sucos... numa impressionante sincronia. 

Depois de poucas horas, desde o ritual inicial, todos devem purificar os corpos na cachoeira de Oxum, leve a vasilha com as ervas cheirosas, e as roupas que irão cobrir você neste momento especial. 

Após todo o preparo, o alimento sagrado é oferecido com entusiasmo, cantos, batuques, sorrisos, amor, carinho e cuidado. 

As galinhas? 
elas alimentam o corpo, alimentam a alma. 


Itabuna, 23 de setembro de 2013.


vale fazer dancinhas, hoje é domingo!







Nenhum comentário:

Postar um comentário

textos relacionados

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...