terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Viagem de avião

Tenho uma amiga que faz aniversário no dia 13 de dezembro. No meio de uma conversa sobre as possibilidades de nos encontrarmos para celebrar, ela disse que iria para Curitiba e de lá, poderíamos ir para Florianópolis. 

Achei ótimo, poderia ir de ônibus. 

De supetão, comprou duas passagens de avião ida e volta. Fiquei chocada e bem chateada... fazia quase quatro anos que eu não voava. Como ela podia fazer isso comigo? Meu protesto foi ficar em silêncio por um bom tempo e descontar tudo na terapia. Coitado do Daniel, e de mim também. Convidei minha prima pra ir junto, caso eu não conseguisse embarcar, ao menos ela teria uma companhia e não ficaria com  tanta raiva de mim. Conseguimos que ela fosse no mesmo voo que eu. 

Chegado o dia, 03 de dezembro, eu minha prima fomos ao aeroporto de Guarulhos. Estava um dia bem bonito. No trajeto de carro estava tudo bem, no saguão do aeroporto também, encontramos com a minha amiga na sala de embarque, nos abraçamos, estava tudo bem. Não mencionei nada sobre medo e ninguém me perguntou. 

Quando levantamos para embarcar, comecei a chorar sorrindo. Achei vantagem estar de máscara, enxugava as lágrimas e disfarçava qualquer expressão minha. Nos abraçamos. Entrei e sentei na poltrona 15 corredor. Havia uma senhora e seu filho adolescente, o pai estava sentado a frente com uma criança. 

Fiquei quieta, só chorava. Me sentia um bicho comestível indo para o abate. Fazia tempo que não entrava em uma aeronave, então comecei a reparar em tudo. Poltrona, mesinha presa atrás, no teto, nas janelas, daí o avião acelerou para subir. Fechei os olhos. 

O curioso é que subitamente passeia a achar legal estar numa máquina tão bem feita e comecei a simpatizar com o progresso tecnológico que aquilo significava. Por via das dúvidas, tirei o tercinho de madeira que a mamãe comprou em Aparecida, apertei as bolinhas o máximo que pude e passei a rezar freneticamente. Fiquei pensando se a meditação teria sido mais eficaz, mas tive que decidir muito rápido, não deu tempo de refletir muito. Comecei a imaginar a quantidade de mensagens que eu ia enviar dizendo que voei e isso me acalmou.

Decolou. 

Eu sei que precisava de alguns minutos para ele parar de fazer aquele barulho um pouco mais alto e meio que estabilizar no céu. Foi rápido, logo estabilizou e não era necessário ficar com os cintos de segurança. Pra mim não fazia a menor diferença, eu ficaria amarrada até o fim da viagem de qualquer maneira. 

O avião pouco balançou. Como de praxe, eu fiquei rezando e olhando as horas no celular até faltar trinta minutos para a previsão de pouso. Reconheço pela alteração do som das turbinas (acho) e já sei quando está descendo. Daí eu começo a curtir a viagem, de verdade. Olho pela janela, admiro a paisagem, adoro as manobras do piloto, converso fácil com desconhecides, ainda q dessa vez tenha ficado bem calada. 

Saindo do avião, agradeci a tripulação pelo ótimo voo e disse que estava com medo. O piloto tirou sarro de mim. Disse que era bancário e estava ali a passeio, achei grosseiro, mas percebi que era algo cultural e não pessoal. E de fato, tratava-se de uma brincadeira grosseira que eu não era obrigada a achar engraçado. Sugeriu que eu tirasse uma foto na cabine, que era importante para perder o medo, que aquilo seria uma espécie de ritual de passagem. Fiquei envergonhada, mas resolvi encarar o mico e torcer para que se tratasse de uma magia simpática. 

Quando o avião pousou, me senti a Gal Gadot e comemorei trabalhando no aeroporto, comendo uma salada de frutas bem colorida e esperando minha amiga chegar. É difícil falar disso sem me sentir mergulhada em uma narrativa de superação ridícula. Não sei, as vezes acho que me falta repertório para entender algumas passagens da vida. Me parece algo mais próximo a uma travessia. Seja de ponte, de território ou de continente. Mas não sei de novo, talvez não seja algo tão próximo do geográfico... é outra coisa, sei lá. 



Um comentário:

  1. Só te digo vem. Na outra margem estamos te esperando, Caboca. Que saudade disgramada. Que orgulho da tua superação!

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