O parente desmemoriado de Manuel de Borba Gato ao pisar em solo Paraense, deixou de lado a cobiça por ouro e esmeraldas imposta por seus ancestrais, e espalhou aos quatro ventos que queria experimentar o melhor Açaí da região. Ouviu falar de uma rixa antiga entre Manaus e Belém e foi tirar a prova deste sabor nas mediações da rodoviária principal da cidade.
Açaí fresco com farinha de tapioca, Belém, 2014. |
Ao experimentar o delicioso vinho de Açaí, decidiu guardar à sete chaves o resultado do método comparativo nesta refinada empreitada degustativa para não ferir o coração de ninguém, seu amigo Vladimir Maiakovski havia feito um bom trabalho neste jovem rapaz.
Ao andar desnorteado atrás de algum lugar que lhe oferecesse peixe frito ainda próximo à rodoviária, teve uma nítida lembrança de uma professora de literatura, Nicia Zucolo, falando sobre uma ilha à duas horas de distância do centro da cidade... : "eu moraria em Algodoal... amo!"
Guardou na memória este nome, aproveitou que tinha algumas moedas no bolso e correu para a casa das onze janelas em busca do seu peixe frito, Luma sugeriu Filhote.
Casa das onze janelas. |
Uma de suas melhores lembranças vinham deste lugar, foi lá onde dançou carimbó no encerramento da 27a Reunião Brasileira de Antropologia (2010) até o seu último suspiro! Apesar do barulho ensurdecedor que vinha do bar palafitas, sentou de frente para o Rio e foi observar o cardápio como quem não quer nada... achou os preços caríssimos, mas sem pestanejar, pediu o tal do Filhote. Com as poucas moedas douradas no bolso sabia que conseguiria pagar o prato. Novamente pensou no seu método comparativo e fez uma aproximação entre o tambaqui e o pirarucu... não ousou dizer uma só palavra. Os sabores das três espécies o deixava cada vez mais desnorteado e entusiasmado com aquela região.
Quis conferir o tamanho do "Peixe Filhote" e correu no Ver-o-Peso.
Foto: Dorival Moreira, Mercado Ver-o-Peso |
Chegando lá, percebeu que sua pressão baixou e quase sofreu um desmaio... era o calor. Não estava acostumado com o sol generoso daquela região... parou em um dos botecos do mercado e pediu uma Cerpa gelada. Aquilo sim era cerveja!
No meio de uma observação atenta ao Rio que estava a sua frente, presenciou uma cena que jamais esquecerá, esqueceu a busca ao Filhote e tirou o caderninho do bolso, um lápis quase sem ponta e sussurrou para si mesmo: Neste exato momento Bukowski sente inveja de mim.
Mercado ver-o-peso, 2014. Obs: estas pessoas foram consultadas quanto a utilização das fotos, no entanto, decidi não citar seus nomes. |
O descendente de bandeirantes percebeu que ao lado de sua mesa, havia um casal que conversava inebriadamente, deixando a nítida impressão de desejo um pelo outro, coisa que jamais vira em lugar algum. Na falta do que fazer, passou a observar o casal com interesse e atenção. Notou que o rapaz, ao tentar seduzir a moça comprando para ela alguns pares de calcinha rendada nas cores preta e vermelha oferecidas por uma gentil senhora que passava vendendo perfumes e peças íntimas entre os frequentadores do bar-mercado, foi interrompido por um terceiro personagem: o romântico tatuado. Tendo em vista travar um duelo com o comprador de calcinhas e laçar o coração desta mulher que despertou o desejo de ambos, tentou neutralizar a compra das peças rendadas oferecendo nada menos que a eternidade ou até o fim de sua própria existência: a própria pele com o nome da amada...
No exato momento em que os olhos da mulher amada se cruzaram com o olhar romântico do jovem tatuado, a vigilância sanitária cercou o espaço e grotescamente retirou o tatuador de cena o acusando de falta de higiene na sua prática de trabalho. Ele refutou as acusações dizendo que usava luvas descartáveis e máscara cirúrgica. Foi "advertido" pela figura do Estado opressor sem entender absolutamente nada daquelas acusações.
O neto de Borba Gato aproveitou a deixa, pagou as duas cerpinhas geladas e correu rumo à rodoviária. À tempo, pegou uma Van (não vá de ônibus), atravessou Belém e em duas horas chegou nos limites de Marudá.
Trajeto de Belém a Marudá. |
Agora faltava pouco, mais uns 30 minutos e estaria na Ilha de Algodoal.
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