quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Supostamente um beijinho no Alley

Quase todos os dias eu passo por essa rua quando volto pra casa.

A primeira vez que passei, à noite, senti cheiro de leite recém fervido... imaginei alguém tomando uma canequinha antes de dormir... olhei de onde vinha... não achei uma janela, só um corredor esquisito onde costumam colocar o lixo e os postes/fios de luz... fica tudo escondido numa espécie de beco que tem nome de "alley". Era de lá que saía o vaporzinho do desejo e algumas especiarias, certeza. Quis fazer o mesmo, mas lembrei do meu nariz escorrendo e pensei que o chá da mangarataia teria um efeito melhor na manhã seguinte. Assim o fiz.

Na semana que passou, senti outros ingredientes vindo da direção do tal do alley, fiquei tentando imaginar o que era, parecia baunilha, açúcar, manteiga... ovo? talvez ovo... na certa era recheio de alguma coisa, talvez de bolo, ou daquelas bombas de padaria sempre muito mal feitas... Procurei janela, porta... seria uma padaria? não é possível! sem placa? Será que é escondida? Talvez não tenha licença pra funcionar... vai saber... passei e fiquei pirando no cheiro de novo... era quase sólido... de tão bom. Me senti compartilhando um segredo... fui dormir com a certeza que havia descoberto algo.

Hoje, quando saí da pink line, fiquei esperando a minha surpresinha diária... aquele docinho vaporizado estaria lá e hoje não daria trégua: you're mine! pensei. Chutei que poderia ser uma casa que vende bolos. Não era possível que aquela nuvenzinha de amor teria um horário tão sincronizado com o meu.

Era beijinho, tinha todos os elementos pra ser... dei três passos pra frente e voltei... tinha uma porta semi aberta pela primeira vez, a de madeira não estava lá, apesar de uma outra de tela. Meti a cara. Parecia uma espécie de depósito, armazém, não era uma casa-casa sabe? tinha umas prateleiras com várias coisas que eu não conseguia enxergar com a pouca luz... Aproveitei a pouca coragem que ainda restava e falei:

- Hola! Buenas noches! 

Apareceu um senhorzinho, de camisa azul e boné branco, parecia estar trabalhando até aquela hora... Antes dele me cumprimentar ou me botar pra fora pelo abuso, eu completei com o meu portunhol venezuelano: es una panadería?

Ele sorriu generosamente com os poucos dentes que tinha, balançou a cabeça dizendo que não:

- As ocho, mañana

Nem acreditei no suspense, ri por dentro.
It's a date! pensei.
Genial!  
E agora? esperar até amanhã pra saber o que era.
No entanto, o desespero curiosístico tomou conta de mim.
Antes de me despedir, dei um tiro a queima roupa: o que abre a las ocho?

- Hacemos dulces.
- Gracias señor!

Mas afinal, o que abre a las ocho? Eu sei lá o que abre a las ocho! A minha pergunta foi sutilmente ignorada por quem não se permitiu ser vítima da minha classificação arbitrária. Bem feito pra mim! 

Só sei que uma lágrima caiu nesse instante. Amanhã saberemos quem são essas belezinhas  <3



Foto: A parte iluminada, ou melhor, de onde sai a luz que atravessa a calçada até a rua, é o alley. O meu objeto de curiosidade e desejo está indicado discretamente com essa plaquinha azul, ao fundo. Vocês não conseguem ver, mas é uma placa de telefone. Acabei de perceber que dá pra ver a porta aberta! haha :D ai que delícia!!! las ocho mañana :3 vou chorar! hahahahahh



thiago pethit - nightwalker






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