domingo, 4 de dezembro de 2016

movimento na pink line

Dia desses estava sentada em um dos vagões da pink line e percebi uma dança, bem ao meu lado.

Me pareceu dois conhecidos que não se viam algum tempo. Um deles sentava ao meu lado e o outro à sua frente, de modo que a conversa que já tinha sido iniciada antes deu chegar, se transformava num espetáculo bem diante da minha localização privilegiada, escolhida sem muito critério.

Sem querer, e depois querendo muito, reparei nos movimentos de braços, pernas e depois do corpo inteiro que ambos realizavam de maneira sincronizada. Enquanto um falava em diversos tons o outro ria, mexia as mãos levantava e baixava o corpo, a cabeça ia junto com a fala e o riso. Eram movimentos que nunca se repetiam.

Estava diante de uma dança!

A dança consistia em linguagem, em comunicação, isso era a base da afinidade musical que a voz de ambos, cheia de alegria e entusiasmo pela performance do outro, tinha. Não parecia amor, paixão ou amizade, é difícil encontrar uma palavra... talvez movimento. Sem muitas regras e com muita fluidez, isso era afinidade.

Afinidade me pareceu bem estar, relaxamento, alegria... quando encontramos nossos afins. Uma maneira de ser, falar, escutar e sentir em silêncio, na medida que se expressa com o corpo e a voz com este outro... quanto mistério!

Era um homem e uma mulher, arrisco que teriam sessenta ou setenta anos. Uma análise apressada poderia indicar que estavam indo em direção ao Cottage Grove. Meu olhar era atento, persistente... porém furtivo, não podia ser descoberta. Meu encantamento poderia parecer rude.

Fiquei hipnotizada por aqueles braços e pernas gigantes que mal cabiam no banquinho da pink line. Continuavam se movimentando freneticamente, ainda que outros corpos passassem no pequeno corredor que os dividia. Ambos estavam próximos às portas, podiam sair a qualquer momento... juntos ou separados: isso não era o mais importante. Fiquei tão absorvida pelo movimento das vozes e corpos alheios que levei um susto quando o ruído congelado, que tem como sina se repetir infinitas vezes naqueles vagões, disse alto e feroz: Damen.

Desci.

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