terça-feira, 25 de janeiro de 2022

(re) nascimentos: descansa o pai, nasce a filha

Ontem, em frente a casa do eletricista, o homem de família descansou. 

O maior coração do mundo, parou... diante do seu melhor amigo e companheiro, Regis.

Era fim de tarde, tinha o risco de chover, papai errou o caminho para buscar a toalha de mesa suja de vinho das festas de Natal. Andando pelas calçadas do Dom Pedro, viu o tio Marcelo deitado numa maca, já em repouso. Foi tudo muito rápido até a ambulância chegar, ele disse. 

Na tentativa de protegê-lo, de não deixá-lo sozinho, de acompanhar aquele coração que ainda batia, papai buscou Maria, a Tia Rama, e o seguiu. Em poucos minutos, a notícia: o homem de família descansou. Ninguém acreditou.

Dois bebês se aproximaram: Evellyn e Diogo. 

O homem mais sábio do mundo, pediu ao primeiro bebê que passasse a dirigir, ele não tinha condições de continuar aquela viagem, suas pernas pediam ajuda. O choque o abateu, continuou sem acreditar. Descansa o bebê, nasce o condutor, o doutor do cuidado. 

A filha bebê, em prantos, espera o corpo do pai. Descansa a criança, nasce a filha mulher. 

A morte e o renascimento andam juntas. Não sem dor, não sem tristeza, não sem a beleza dos encontros e reencontros. 

Tio Marcelinho ensinou sobre amor incondicional e viveu o seu maior desejo: ter uma família, esposa e filha. Lutou por ela até o fim. Acreditou no inacreditável, veio a cura. Conseguiu, venceu, todos nós ganhamos com o seu amor, seu exemplo, sua força, alegria e generosidade. 

Na última vez que nos vimos, ganhei um litro de açaí, dois quilos de farinha e um pijama rosa com cavalinhos brancos. Além dos presentes, muitos abraços, várias palavras de cuidado e incentivo. Isso é ser família. 

Pergunto ao papai como está a tia Simone. Ele me responde que está nos braços e abraços das irmãs. Pra mim, não existe outra maneira de viver senão entre os braços dessas mulheres que curam. 

Eu também não acredito, sigo flutuando sem acreditar. Liguei pra minha irmã, quem me atende e consola é o Márcio, meu sobrinho querido: "oi tia rosse tudo bem"

Havia sonhado com ele na noite anterior. Me emociono, fico sem palavras, deixo ele falar. A vida e a morte se complementam. Descansam e choram os adultos, os bebês e as crianças vem pra nos curar e ensinar a natureza dos ciclos, dos renascimentos. Quando uma respiração termina, outra se inicia. Meu coração está com todos vocês, minha família querida. 



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